O mais recente parecer da União Europeia sobre a Superliga (que, de uma forma resumida, impediu a FIFA de vetar a criação da competição) desencadeou um debate acalorado que promete não ficar por aqui. Representou, igualmente, uma chapada de luva branca à FIFA e à UEFA, desafiando as suas posições mais enraizadas. A questão que se impõe é se a Superliga, neste cenário, desempenha o papel de Herói ou Vilão no cenário do futebol europeu. A verdade é que esta decisão traz à tona um espaço de debate e reflexão sobre a necessidade de inovação no futebol (com ou sem Superliga).

Embora não seja fã da Superliga, admito assumir, momentaneamente o papel de advogado do Diabo. A crítica às práticas da FIFA e da UEFA destaca a necessidade de repensarmos o modelo atual das estruturas existentes. Aqui, e pegando nas palavras de Florentino Pérez, não esquecendo que é uma figura parcial nesta questão, existe um ponto muito interessante. Este parecer é uma oportunidade para inovarmos, repensarmos e sairmos fora da caixa, permitir aos clubes e adeptos expressarem as suas convicções e ideias.

Quanto à própria Superliga, a proposta apresentada pela A22 Sports Management parece-me bastante dúbia. A estratégia do streaming gratuito dos jogos parece-me ideal para mascarar a ideia da inclusão, numa competição “sem membros permanentes” que sugere uma rutura com o sistema tradicional. Porém, as ligas Star, Gold e Blue, com as suas características, levantam muitas questões sobre a verdadeira inclusão e meritocracia dos clubes.

Vamos por partes, peguemos no exemplo do Leicester: um clube que faça um campeonato interno surpreendente e que conquiste o título, nunca poderia, sob este formato, alcançar a primeira divisão e jogar com os “melhores clubes”, sem passar obrigatoriamente pelas divisões inferiores. A par deste facto, a disparidade entre os clubes mais poderosos e os menos privilegiados seria cada vez maior, o que impossibilitava a existência de projetos como o Schalke, em 2011, o Ajax, em 2019, ou Villarreal, em 2022.

A longo prazo, as desvantagens parecem inúmeras, acima de tudo se falarmos da verdadeira essência do futebol. O mundo pára quando existe um duelo entre Real Madrid e Liverpool, por exemplo. A banalização deste tipo de jogos, todas as semanas, iria retirar-lhes todo o seu cariz diferenciador e único.

A Superliga Europeia, neste formato, apresenta inúmeras limitações. Porém, não deve ser vista como uma ameaça ao futebol, até porque o último parecer será sempre o dos clubes, mas sim como uma oportunidade de repensar o futebol. É uma oportunidade para inovarmos os modelos que atualmente existem, cativando cada vez mais pessoas.

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