Estamos todos cientes do drama dos profissionais colocados a centenas de quilómetros de casa como é o caso dos professores, mas também de outros profissionais, entre os quais os investigadores científicos ou os profissionais de saúde, que por necessidade se veem forçados a trabalhar longe da sua residência. A precariedade laboral e a dificuldade de encontrar um emprego estável na sua área de residência, são os principais fatores que empurram as pessoas para tal. Estes profissionais deparam-se com grandes obstáculos ao nível da mobilidade e da habitação. Efetivamente, a falta de uma rede acessível de transportes públicos – dificilmente compreensível num país tão pequeno como o nosso, torna as pessoas cada vez mais dependentes do automóvel. E para quem se vê forçado a mudar a sua residência para um novo local, mais perto do seu novo emprego, o enorme aumento do custo da habitação torna esta mudança extremamente difícil, senão insustentável.

Ora, sabemos, mas é preciso sublinhar isto, que as várias políticas que resultaram nesta situação (ao nível dos transportes, da habitação, do emprego) – desde já incongruentes com quaisquer ideias de sustentabilidade, ou de conciliação da vida pessoal e profissional, ou de promoção da saúde mental dos trabalhadores, ou de desenvolvimento das regiões do interior do país – têm custos sociais e emocionais, já para não falar dos custos financeiros elevadíssimos para os trabalhadores. As pessoas deslocadas ficam sem tempo para estar com a sua família e amigos e vão perdendo a sua rede social de apoio, um fator de proteção fundamental na vulnerabilidade ao stress. Passar mais horas em viagem, implica frequentemente dormir menos horas – e grande parte dos portugueses têm problemas de sono, implica não ter tempo, nem energia para mais nada quando se chega a casa e ficar cada vez mais cansado, correndo maior risco de adoecer. Por outro lado, a habitação é uma das maiores preocupações atuais dos portugueses e encontrar casa, ou uma nova “casa” é hoje extremamente difícil dado o insustentável aumento dos preços da habitação por todo o país e os baixos salários dos portugueses.

A recente medida do governo de instituir um passe ferroviário da CP no valor de 20 euros, seria uma boa ideia se houvesse uma visão política alargada que visasse dar resposta a estas questões de habitação, insuficiente rede ferroviária e apoio aos profissionais deslocados. Mas sem uma rede ferroviária capaz, com horários suficientes para permitir que um trabalhador se possa deslocar todos os dias de comboio para ir trabalhar, chegando a horas – e já agora, é necessário lembrar que a rede ferroviária não cobre todo o país, e que é importante melhorar também a rede de transportes não ferroviários em vários municípios – esta medida não dará resposta aos problemas de mobilidade. Sem um apoio salarial justo a todos os trabalhadores que são obrigados a mudar de residência por motivos de trabalho, esta opção torna-se inviável. Trabalhar longe de casa está a tornar-se insustentável; ficar no mesmo lugar, sem oportunidades de valorização profissional também. O que nos resta?

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