A Matemática é uma disciplina com características muito próprias, a saber: abstração, precisão, rigor lógico e o caráter incontestável (ou quase incontestável!) das suas conclusões. Para o ensino da Matemática não basta conhecer, é necessário criar. A título de exemplo, posso referir que os alunos, nas minhas aulas de Matemática, são capazes de produzir e criar recursos nos quais explanam os seus conhecimentos, sendo estes analisados por todos, gerando discussão e partilha. Com este tipo de trabalho, desenvolvem competências, não só a nível académico, como a nível social. Sendo um dos objetivos fundamentais da educação criar no aluno competências, hábitos e práticas úteis, bem como desenvolver capacidades, urge implementar uma Matemática virada para o século XXI, o professor deve saber o que está a ensinar, o modo como o faz e o porquê do que ensina. O Perfil do Aluno para o século XXI, à saída da escolaridade obrigatória, define precisamente as aptidões e competências que são consideradas essenciais para os jovens deste milénio, como: criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas, tomada de decisão, comunicação, colaboração, literacia no uso e acesso à informação, investigação e pesquisa, literacia mediática, cidadania digital, operações e conceitos em TIC, flexibilidade e adaptabilidade, iniciativa e auto-orientação, produtividade, liderança e responsabilidade.

A principal questão que se levanta é: como ensinar a Matemática? Como motivar o aluno? Como ensiná-lo a pensar?

Ora aqui está, a Matemática é uma ciência em que é fundamental persistir e não desistir, para que não haja desmotivação, para que os alunos recuperem ou mantenham o interesse em aprender. A aula de Matemática deve tornar-se um dos locais para preparar os indivíduos que a sociedade atual exige e da qual fazem parte as áreas de competência do Perfil do aluno, já mencionadas anteriormente.

Uma das minhas grandes motivações é o uso das tecnologias de informação e da comunicação, não só na preparação do meu trabalho, mas também na lecionação aos meus alunos. No dia-a-dia tento desenvolver formas de trabalho que os motivem e lhes despertem o gosto pela procura do conhecimento. Aliando o meu gosto pelo uso da tecnologia à aptidão inata nos alunos do uso intrínseco das mesmas, percebi que poderia ter a partir daqui o alicerce para a “motivação” destes para a Matemática. O que sempre tento implementar nos alunos é a vontade da procura, da pesquisa e do rigor. Aproveito aquilo que eles trazem com eles, e porque não podemos considerar que são “tábua rasa”, mesmo que seja empírico o conhecimento.

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São imensos os desafios que tenho tido que enfrentar. O Agrupamento de Escolas de Freixo situa-se num meio rural no qual a maioria dos Pais/Encarregados de Educação, têm poucas expectativas em relação à escola! Tudo se torna mais complicado, e quando assim é a perspicácia do professor tem que ser muito mais eficaz, de modo a tentar motivar os alunos para a escola e sobretudo para a Matemática, o “tendão de Aquiles” da maioria dos nossos estudantes. Tarefa dificultada, quando do “outro lado do portão”, os Pais/Encarregados de Educação, exercem uma força em sentido contrário. Logo percebi que algo teria que ser feito e que teria que ser “eu” a tomar a iniciativa e a tentar provocar a mudança.

Decidi, então, trabalhar com os Pais/Encarregados de Educação, missão aparentemente impossível, em paralelo com os alunos. Desenvolvi uma metodologia de trabalho, utilizando uma aplicação do Office 365, o YAMMER, que funciona como uma rede social educacional e completamente controlada por mim e pela escola, na qual coloquei todos os alunos das minhas turmas e todos os Pais/Encarregados de Educação a interagirem no âmbito da Matemática. A minha função consiste em colocar “tarefas” que os alunos têm que resolver, utilizando vários recursos, designados por mim ou deixando à criatividade e imaginação dos mesmos, e nas quais os Pais/Encarregados de Educação podem acompanhar. Para que os Pais/Encarregados de Educação pudessem ajudar os seus educandos a estudar em casa, realizei workshops de forma a se inteirarem do funcionamento da aplicação. Os Encarregados de Educação mostraram-se muito interessados e empenhados. Desta forma iniciou-se a “motivação” para os Pais/Encarregados de Educação, e assim começou a aumentar a valorização dos mesmos em relação à escola, mas sobretudo, em relação à Matemática, o que inicialmente, me parecia impossível atingir.

A partir deste ponto, com os alunos, tudo era mais fácil gerir. No fundo, percebi que, se os alunos são pessoas diferentes, se têm vivências diferentes, também têm ritmos de aprendizagem diferentes, então tento proporcionar a cada um deles uma aprendizagem significativa ao ritmo de cada um. É importante referir que eu sou sempre “o último recurso” para ajudar os alunos, sendo que o objetivo da criação da aplicação é que eles partilhem conhecimento entre eles, esclareçam dúvidas uns com os outros, desenvolvam a comunicação, a linguagem matemática, a criatividade, o espírito crítico, o raciocínio lógico e a resolução de problemas. A juntar a esta mudança nas práticas pedagógicas e metodologias surge uma outra forma de avaliar, diversificando os registos e personalizando-os atendendo às dificuldades de cada um.

Ainda me recordo de ter aulas em que a professora passava a matéria, explicava, dava exercícios, tirava dúvidas e corrigias os exercícios, ou então, como ninguém percebia nada, era uma “bagunça”, ninguém prestava atenção. É isto que tento não fazer quando leciono Matemática aos alunos do século XXI. Lembro-me que só queria que o professor mudasse a forma de explicar o conteúdo; que gostaria de aulas mais práticas e com trabalhos diferentes; gostava de mais interação entre todos, alunos e professor.

O “fracasso” na Matemática não depende exclusivamente das características da disciplina. É urgente renovar profundamente a escola, de forma a que esta se torne um espaço motivante e agradável de trabalho e de crescimento pessoal e social. Isso pressupõe, eventualmente, uma intervenção aos mais diversos níveis, incluindo as práticas pedagógicas, o currículo, o sistema educativo e a própria sociedade em geral. É necessário que a Matemática seja vista como uma ciência em permanente evolução, que procura responder aos grandes problemas da sociedade e de cada um de nós.

Cada vez mais, a aula deve vir para fora da sala, permitindo de forma livre despertar a curiosidade dos alunos e desenvolver competências para a vida.

Professora de Matemática e Ciências Naturais no Agrupamento de Escolas de Freixo, Ponte de Lima. Finalista do Global Teacher Prize Portugal 2018.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.