Para além das diferenças óbvias entre homens e mulheres, a verdade é que, mesmo depois de leis de quotas e de toda a relevância que hoje em dia se dá à igualdade de género, em pleno século XXI, a mulher continua a ser socialmente vista como o pilar da família, a mãe, a cuidadora, a gestora da casa e das agendas escolares e sociais dos filhos. Claro que além disso, a mulher deve também ser uma profissional de sucesso, uma mulher apaixonada e dedicada, uma excelente filha, uma amiga disponível e divertida e, naturalmente, fazer desporto, ter uma alimentação equilibrada e um corpo invejável.
E as mulheres, aceitando esta realidade, tentam, o melhor que podem, ir gerindo todas estas dimensões. Dimensões essas que a sociedade não exige aos homens.
E é, sobretudo, na parentalidade que reside a grande desigualdade de género. Quantas mulheres não foram já prejudicadas na sua carreira por serem mães? Quantas não foram preteridas em processos de recrutamento por estarem grávidas ou terem intenção de estar num futuro próximo? Quantas mulheres não se sentem julgadas quando têm de declinar ou sair mais cedo de uma reunião porque têm de ir buscar os filhos ou irem com eles ao médico?
E quantos homens que tenham decidido gozar a licença parental inicial e usufruir de todos os dias previstos na lei para a parentalidade não foram olhados de lado ou até julgados?
A igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho só será atingida quando homens e mulheres puderem usufruir exactamente dos mesmos dias de licença parental, como acontece em alguns países, como Espanha, por exemplo.
E, como é óbvio, quanto mais tempo os filhos puderem passar com (ambos) os pais, melhor será para todos.
Felizmente, algumas empresas, dando cada vez mais importância a politicas de Inclusão e Diversidade, bem como aos inúmeros estudos sobre work-life balance e que tipo de benefícios são mais valorizados pelos trabalhadores, começa, paulatinamente, a implementar medidas e políticas “family friendly”. Reconhecendo que trabalhadores equilibrados e felizes estão mais motivados e são mais produtivos e isso reflecte-se no (bom) resultados das empresas.
Foi, pois, com indisfarçável orgulho que vi ser aprovada na AstraZeneca Portugal, empresa onde tenho o privilégio de trabalhar, a extensão da licença parental exclusiva do pai até perfazer os 120 dias consagrados na lei para a licença parental inicial e que, usualmente são gozados apenas pela mãe. Obviamente extensível a casais do mesmo género e em casos de adopção.
Não sei se algum dia o que a sociedade exige e espera da mulher vai mudar, mas é nosso dever – enquanto sociedade – lutar contra a discriminação em função do género e – enquanto mulheres – começarmos a exigir menos de nós próprias.