Não há dúvidas de que a Apple veio mudar o paradigma tecnológico. Em 2007, quando o primeiro iPhone foi lançado, a revista americana Time considerou-o invenção do ano, uma distinção merecida. Ao longo dos anos – e dos novos iPhones lançados-, as melhorias que foram sendo adicionadas eram claras: melhores câmaras, ecrãs com maior resolução…. sistemas internos mais sofisticados. Os novos telefones nunca, ou quase nunca, deixaram de surpreender. Mas com o tempo estas alterações passaram a ser marginais, de tal forma que apenas um especialista ou entusiasta em tecnologia poderá dizer as diferenças entre um modelo e outro, e mesmo esses terão dificuldade em apontar diferenças práticas. O que continua a surpreender é a quantidade de lixo eletrónico e de emissões produzidas anualmente – prevê-se que, até 2030, se produzam 74 milhões de toneladas métricas – como consequência deste consumo desmedido e as resultantes consequências catastróficas no nosso ambiente. E a forma como tantos parecem ignorar este fator.
Não obstante, setembro é sinónimo de lançamento de um novo modelo de iPhone e outros dispositivos da marca Apple. Todos os anos, acontece o mesmo. Saem notícias e artigos sobre aquilo que se espera da nova gama. Adivinham-se datas de lançamento. Avalia-se a necessidade de trocar de telefone, apesar de, para muitos, a última compra ter sido feita muito recentemente. E assim sucessivamente.
Não me interpretem mal. O lançamento de inovações tecnológicas é, para mim, bastante entusiasmante, especialmente se nos vier “descomplicar” o dia a dia. O iPhone passou a funcionar como telefone, computador, câmara fotográfica, agenda… temos tudo na nossa mão. Mas confesso que não consigo ainda perceber a necessidade de comprar um novo modelo todos os anos, especialmente quando as diferenças de uma gama para outra não são assim tão indicativas. Vale mesmo a pena criar tanto desperdício eletrónico (e-waste)? Anualmente, dizem-nos dados das Nações Unidas, são produzidos 50 milhões de toneladas de e-waste. Se pensarmos na tendência dos consumidores de tecnologia em simplesmente descartar produtos eletrónicos quando compram novos, conseguimos perceber que os próximos tempos não se avizinham brilhantes.
O status, ou a ideia de status, não precisa de ditar as nossas escolhas. A Apple já referiu que os iPhones são feitos para durar, em média, três anos. Porquê mudar anualmente? Porquê continuar a alimentar a produção desmedida de tecnologia?
Volto a referir que a tecnologia me entusiasma bastante. Mas quando é usada da forma correta. É por isso que a ideia de tecnologia verde me faz tanto sentido. O recondicionamento de produtos eletrónicos é um processo que permite qualidade, longevidade e poupança, não só na carteira, mas também no ambiente. É possível ter iPhones praticamente novos (as diferenças quando existem são meramente estéticas) e amigos do ambiente através do recondicionamento. Alguns dados interessantes, divulgados pela agência francesa para a inovação ADEME, revelam que o recondicionamento permite a poupança de cerca de 80 quilos de CO2 – o que equivale à deslocação de um carro durante 492 quilómetros -, 258 quilos de matéria-prima – o que representa o peso de 12 bicicletas -, e 68.400 litros de água – equivalente à água que um adulto deve consumir durante 103 anos. As compras tecnológicas, como todas as compras na verdade, devem ser ponderadas. Devemos dar uso ao ciclo de vida inteiro de um smartphone, ou de qualquer outro produto eletrónico.
Mais do que uma mera opção a considerar, os aparelhos recondicionados devem ser a escolha. O ambiente agradece, a carteira agradece e a tecnologia agradece também.
No final dos anos noventa a Apple introduziu um simples, mas bastante eficaz slogan de marketing – “Pensa Diferente”. Este slogan foi inspirado no slogan da IBM – “Pensa IBM” – que na altura dominava a indústria dos PCs. Penso que com o tempo este slogan tornou-se mais relevante do que nunca. Portanto, pensemos diferente, pensemos recondicionado.