Paulo Bento disse esta sexta-feira, na RTP Informação, que não “quer acreditar” que Cristiano Ronaldo possa ter influenciado a decisão da Federação Portuguesa de Futebol de o afastar do cargo de selecionador nacional. As declarações foram proferidas na primeira entrevista que deu após a demissão, onde explicou que a iniciativa de deixar o cargo não tinha partido dele. Contudo, expôs a Fernando Gomes, presidente da Federação, que “não tinha condições para continuar”. 

A conversa entre Paulo Bento e Fernando Gomes ocorreu dois dias depois da derrota contra a Albânia, a 9 de setembro, e a decisão foi tornada pública no dia seguinte. “Foi uma conversa aberta, franca”, revelou, acrescentando que acreditava que se a decisão dependesse apenas da vontade do presidente da Federação, ainda hoje continuaria como selecionador nacional.

Sobre a derrota por 1-0 contra a Albânia, Paulo Bento disse ter sido a “gota de água que fez derramar o vaso“. “Tínhamos toda a obrigatoriedade de ganhar [aquele jogo]”, disse, referindo que era “evidente” que a derrota tinha trazido à baila muita coisa” que se passou no Mundial do Brasil, o que acabou por influenciar a decisão tomada pela Federação. “Tínhamos obrigação de ganhar, mas de justo o resultado não teve nada”, revelou.

Quanto às notícias que deram conta de que Cristiano Ronaldo pode ter influenciado a sua saída da Seleção Nacional, Paulo Bento afirmou que não queria acreditar que isso fosse possível, porque isso “seria virar totalmente do avesso a hierarquia e abrir um precedente que não seria bom para ninguém”.

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“Se me pergunta se Cristiano Ronaldo me confrontou diretamente com alguma situação, digo não. Se confrontou os membros da direção, não sei. Isso só eles poderão responder”, revelou.

À insistência do jornalista, Paulo Bento respondeu que, na sua opinião, a escolha sobre o destino de um selecionador cabia unicamente à Federação e “nada mais”.

“Não posso sequer acreditar que haja um jogador que possa influenciar uma direção de uma Federação a tomar uma decisão sobre um treinador”, revelou.

Acerca de Cristiano Ronaldo, Paulo Bento afirmou que “foi o melhor jogador” que já treinou e que ajudou a seleção a alcançar muitos dos objetivos a que se tinha proposto durante os últimos quatro anos. Quando questionado sobre se esperava mais apoio do jogador após a derrota contra a Albânia, respondeu que “não esperava nem mais nem menos”, revelando que é quando se perde que, regra geral, se conhecem melhor as pessoas.

“Ninguém se deve habituar a perder, mas com a experiência e com os anos vamos aprendendo a lidar com a frustração. Ele [Cristiano Ronaldo], não se vai acomodar, porque tem uma ambição muito grande, mais vai saber gerir melhor a incapacidade que, às vezes, temos para alcançar os nossos objetivos”, disse, acrescentando que era um jogador com uma qualidade “tremenda”. Contudo, se tivesse que escolher o jogador mas completo que já treinou até à data, a sua escolha recairia sobre João Moutinho.

Sobre Cristiano Ronaldo, disse ainda que foi uma influência “extraordinária” na forma de jogar da equipa portuuesa e que não tinha problemas em assumir que muitos dos planos dos jogos passavam por aquilo que eram as características do craque do Real Madrid.  

Paulo Bento revelou que não voltou a ter contacto com os jogadores da seleção depois do jogo com a Albânia e que seria desonesto da sua parte dizer a Fernando Gomes que tinha condições para continuar.

“Eu não sei se abri a porta para sair, o que sei é que fiz aquilo que tenho feito sempre com as pessoas com quem trabalho, que é ser honesto com elas”, referiu.

Sobre o futuro e uma eventual sucessão a Jorge Jesus no Benfica, revelou que o clube estava “extremamente bem servido de treinador” e que não “tinha de estar disponível para suceder a ninguém”. Quanto ao Futebol Clube de Porto (FCP) e às declarações de Pinto da Costa –  que afirmou que enquanto estivesse na presidência do clube Paulo Bento nunca seria treinador – afirmou ter um “respeito tremendo” pela instituição FCP, pelos adeptos e “por aquilo que são os portuenses e a cidade do Porto”.

Por último, ficou um eventual regresso “a casa”, ou seja, ao Sporting Clube de Portugal. “Não devemos dizer que desta água não beberei, mas o que posso dizer é que neste momento o Sporting tem um treinador que fez um percurso extraordinário no Estoril “, acrescentando que Marco silva era jovem, competente e que tinha “todas as condições para fazer um bom trabalho” no Clube.

Acerca dos nomes que estão em cima da mesa para para a sucessão no cargo de selecionador nacional, Fernando Santos, Jesualdo Ferreira, Paulo Bento, Vitor Pereira e Manuel José, disse que são treinadores “com provas dadas” e que tem a certeza que o presidente da Federação tomará “a melhor decisão”.

Paulo Bento foi selecionador nacional durante três anos e 355 dias. Em abril, tinha renovado o contrato com a Federação Portuguesa de Futebol até ao final de junho de 2016, mas a sua saída foi confirmada a 11 de setembro. Pela seleção nacional, fez 46 jogos: 25 vitórias, 11 empates e nove derrotas.