“Quando assumi a responsabilidade por este sítio, não sendo ainda possível valorizar o edifício da basílica, achei que era importante começar a restaurar a pintura mural, nem que fosse aos poucos. É isso que temos vindo a fazer, um bocadinho cada ano, desde 2012”, disse à agência Lusa Inês Vaz Pinto, diretora da equipa de arqueologia do Troiaresort.
“Temos gasto aqui cerca de 5.000 euros por ano, com uma empresa especializada – a Mural da História – que tem feito este trabalho de restauro”, acrescentou Inês Vaz Pinto, salientando a importância histórica deste conjunto de “pintura romana tardia, muito geométrica”.
De acordo com a arqueóloga, as paredes da basílica estão dividas em três faixas: uma parte inferior com marmoreados imitando placas, uma faixa intermédia e uma superior, em que há, sobretudo, “padrões geométricos, com redes de octógonos, círculos, losangos e, por vezes, temas figurativos como flores e aves”.
“E ainda alguns motivos muito significativos, como o cântaro, que pode evocar o banquete ou a água do batismo. O cântaro é um tema muito habitual em toda a temática paleocristã”, explicou.
A basílica paleocristã de Tróia é considerada uma das mais antigas da Península Ibérica e das apresentam melhor estado de conservação, a que não será estranho o facto de ter estado soterrada por dunas de areia durante muitos séculos e de só ter sido colocada totalmente a descoberto nos anos 70 do século passado.
Segundo Inês Vaz Pinto, a Basílica Paleocristã de Tróia, que antecedeu a Capela de Nossa Senhora de Troia, onde se realiza a festa anual dos pescadores de Setúbal, tinha pintura em todas as paredes, até uma altura média de 3,15 metros, que terá sido executada logo que a igreja foi feita, no final do século IV ou no início do século V.
Uma dessas paredes tem estado a ser recuperada com o apoio financeiro da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), que se tem interessado pelas ruínas de Tróia, por considerar que se trata de um património histórico ligado às vertentes da pesca, indústria e transporte marítimo de mercadorias e que por isso são parte da história do porto de Setúbal.
“Isto era um grande sítio exportador de produtos de peixe, com muita movimentação de mercadorias e de barcos, com toda a certeza. A APSS já nos apoiou [com 4.500 euros] na recuperação de uma parede e quer renovar o protocolo nos próximos anos”, justificou Inês Vaz Pinto, satisfeita com a ajuda financeira da administração portuária de Setúbal.
Os trabalhos de restauro das pinturas romanas de Tróia, que estão a decorrer desde 2012, visam também corrigir algumas intervenções efetuadas na década de 1970, em que os materiais utilizados para a conservação daquele património histórico não terão sido os mais adequados.
“Nos anos 70 sentiu-se a necessidade de fazer restauros. Consolidaram-se as paredes com gesso e argamassa à base de cimento. São materiais que não são considerados adequados, porque são muito mais resistentes do que as próprias pinturas e que fazem, por vezes, estalar as pinturas que estão à volta ou concentrar os sais nessas áreas”, disse.
Para Inês Vaz Pinto, a recuperação das pinturas da basílica paleocristã representa um contributo importante para a valorização do património histórico das Ruínas Romanas de Tróia, classificadas como Monumento Nacional desde 1910.