Angela Merkel afirmou esta terça-feira que países como Portugal e Espanha têm demasiados licenciados, o que faz com que não tenham noção das vantagens do ensino vocacional. O PS já reagiu às declarações da chanceler alemã, dizendo tratar-se de afirmações “incompreensíveis” e que revelam uma leitura “enviesada e injusta da realidade”. Para o deputado socialista Bravo Nico, que falava esta tarde na comissão parlamentar dos Assuntos Europeus, a posição de Merkel é “política” e por isso merece uma resposta também política da parte do Governo português.

A afirmação de Merkel já está a tornar-se polémica. “Caso contrário, não conseguiremos persuadir países como Espanha e Portugal, que têm demasiados licenciados, dos benefícios do ensino vocacional”, disse a líder alemã, durante uma intervenção na confederação das associações patronais daquele país (BDA, na sigla em alemão). E, citada pela agência de informação financeira Bloomberg, acrescentou ainda que os estudos universitários deviam ser evitados nos casos em que são vistos como um feito de topo de carreira.

De acordo com dados do gabinete de estatísticas europeu, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores, enquanto a percentagem portuguesa era de 17,6% e a alemã de 25,1%. Na cabeça da lista encontrava-se a Irlanda, com 36,3% da população entre os 15 e os 64 anos licenciada, seguindo-se o Reino Unido com 35,7%, estando a Roménia (com 13,9%) e a Itália (com 14,4%) no final da lista.

O PS lembrou estes dados durante uma audição desta terça-feira ao secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, para pedir ao Governo que assumisse uma posição política sobre o assunto. Bruno Maçães, no entanto, não terá assumido nenhuma declaração sobre a matéria. Segundo Bravo Nico, as declarações da chanceler alemã são “no mínimo incompreensíveis”, já que a Alemanha é um dos países que “mais tem beneficiado com a emigração maciça dos licenciados portugueses”, entre engenheiros, enfermeiros, arquitetos.

“Portugal não tem licenciados a mais, mas sim a menos”, disse o socialista, acrescentando que “o maior deficit estrutural português é o das qualificações e essa é que é a variável mais crítica para o desenvolvimento do país”.

No mesmo discurso, Angela Merkel declarou que a economia alemã precisa de mais investimento, mas rejeitou que o seu Governo incorra num maior défice para resolver o problema. “A necessidade (de novos investimentos) ainda é importante”, disse Merkel.

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