Ouro, prata ou bronze, tanto faz, mas a medalha aparece. Isso ou a conquista de uma competição. A comunicação social não liga nenhuma ou chega atrasada, portanto, o atleta pega no computador e abre o Facebook. Toca a escrever e a partilhar a novidade da vitória com quem o segue. Os gostos na publicação são muitos e as mensagens de parabéns também. Haja reconhecimento. O atleta vê, gosta e sorri, mas ignora e não agradece. Não pode ser. E quem avisa não é amigo, mas é bom conselheiro: “Não é chegar lá, deixar uma mensagem e pronto. Como um cão que marca o território.”
A garantia é dita por Marcos Castro, sem uma ponta de dúvida, quando estava do outro lado da chamada com o Observador. E duvidar foi algo que também não lhe veio à cabeça enquanto, no dia anterior, discursava perante dez atletas. “Estamos a falar de uma coisa com dois sentidos. É assim que se constrói uma relação, dando feedback”, começou por resumir o especialista em Marketing Digital que, na quarta-feira, esteve na sede do Comité Olímpico de Portugal (COP) a distribuir conselhos. “Os atletas não podem pensar que, quando conseguem um resultado, têm apenas de o divulgar e não ligar a elogios ou críticas”, prosseguiu.
Sensível não era, mas o tema “é importante”. Por isso Marcos, que hoje integra o Comité Europeu de Hóquei, foi falar com dez atletas olímpicos portugueses e dizer-lhes para “terem presença ativa nas redes” — que lhes serão “favoráveis” até quando deixarem de competir.
O especialista defendeu que a vida de um atleta “não pode ser só competir, e pronto”. Há que pensar em muitas outras coisas: os “valores” que se passam, a “ativação” da sua marca, os patrocinadores e, no fundo, na estratégia de comunicação. Porque, diz Marcos, um atleta “têm de ter consciência que cada vez mais a concorrência é maior” e uma “estratégia serve para ir contra alguém”. E, claro, dar nas vistas. Nas dos fãs, seguidores e amigos, sim. E já agora nas das “marcas, personalidades e dos patrocinadores”.
Porque os valores que os atletas “dão a conhecer” podem “coincidir com os das marcas”. E podem dar à luz uma parceria frutuosa. Marcos, mesmo sem recordar o nome, até foi buscar um estudo que chegou a estimar em 118 mil euros o valor de cada publicação na página de Facebook de Cristiano Ronaldo — que tem mais de 103 milhões de seguidores. Hoje as contas já perderam o rasto ao número de redes sociais que existem. Por isso contam antes as mais populares: há Facebook, Instagram e Twitter. E estar em cada uma delas é como ajustar a postura que uma cadeira diferente nos obriga a adotar.
A última, a rede que limita tudo a 140 carateres, “não tem uma posição massiva em Portugal”, admitiu Marcos, embora a defina como “importante para atletas que participem muito em provas internacionais”. David Rosa até é um desses casos. Em 2012 esteve em Londres, a representar Portugal nos Jogos Olímpicos a pedalar em cima de uma bicicleta de cross-country.
E na quarta-feira lá estava a ouvir os conselhos de Marcos Castro Mas Twitter é coisa à qual não liga. Para ele, só Facebook: tem uma página oficial com pouco mais de 16 mil seguidores. “Achava que não valia a pena ter um site”, confessou, mas, pelos vistos, estava enganado, pois de lá saiu com a certeza de que, afinal, “será uma mais valia”. Isso e outras coisas que ouviu e concordou.
Como a “coerência” entre “aquilo que uma atleta é nas redes e o que é na realidade”. Ou a genuinidade quando se associa a causas sociais. “Não pode ser por frete, tem de ser uma coisa da qual realmente gostamos”, resumiu ao Observador, antes de chegar à parte dos comentários. “Seja abonatório ou não, reajo sempre”, assegura, sublinhado que lhes foi dito para responderem “sempre e de forma personalizada”. Sobretudo às pessoas, conta, que escrevem o “assim e assado” do “gostei e dos parabéns”.
Conselhos destes, como ressalvou Marcos, já são “um bocadinho senso comum”. Mas outros há que não o sejam. E os 28 anos de David Rosa retiveram um deles. “Ter um slogan ou uma forma de festejar mais característica para as pessoas se identificarem”, revelou. A “tendência” de qualquer atleta, porém, seja ele especialista a pedalar, correr, velejar, saltar ou dar pontapés na bola, “devia ser a de contar histórias”. E Marcos Castro explicou porquê: “É o que traz as pessoas para o seu lado: as razões para praticarem a modalidade, como começaram, episódios da carreira, etc.”
O desporto “tem muitas histórias”, evidencia Marcos. Antes “só existia a comunicação social” para as contar e servir de “intermediário”, acrescenta. Hoje não. Os atletas “nem sempre precisam dela”. E, concluiu, se não forem eles a contarem o que lhes acontece em “viagens, sacrifícios ou vitórias”, talvez estas histórias nunca caiam no goto dos fãs. E será assim, a partilhar e desvendar, que conseguirão criar um território. E não só marcá-lo.