O pós-Passos Coelho já está em marcha. Vários ex-deputados e ex-dirigentes têm-se reunido e discutido ideias para que, no momento em que o atual líder do PSD decida sair, o poder não fique entregue a um dos seus colaboradores mais diretos, quer ele seja Maria Luís Albuquerque, Marco António Costa ou Jorge Moreira da Silva.
Um dos nomes que os mais críticos de Passos gostariam de ver avançar é Rui Rio, que está a ser pressionado pela direção do PSD a integrar a lista de deputados nas próximas eleições legislativas.
“Tem havido várias conversas e movimentações que incluem vários setores do partido no sentido de refletir sobre a atual situação política e o que poderá ser o futuro do PSD. A motivação fundamental é que o PSD possa ganhar as próximas eleições mas naturalmente que é fundamental olhar o futuro e preparar o partido para uma eventual derrota do PSD”, afirmou ao Observador um ex-dirigente do PSD. “Têm sido discutidos vários nomes e hipóteses para esse cenário. Naturalmente que o nome óbvio é o Rui Rio caso esteja disponível e não seja candidato presidencial”, acrescentou.
O ex-deputado Luís Rodrigues assume ao Observador que já teve conversas com José Eduardo Martins, entre outras pessoas, nesse sentido. “Vamos encontrar a melhor solução na devida altura”, afirmou o social-democrata, que tem apresentado sempre uma lista alternativa ao Conselho Nacional do PSD nos anos do passismo. É uma das pessoas que, em articulação com militantes de vários distritos do país, gostava que Rio avançasse depois das próximas legislativas e em que, se o PSD perder, Passos devia, “coerentemente, sair”.
Sobre o facto de Rio poder a vir integrar as listas de deputados, Rodrigues confessa, aliás, que “uma pessoa que queira ser alternativa ao status quo devia ficar de fora”. Em entrevista ao Observador, o ministro da Defesa, Aguiar-Branco, tinha defendido abertamente que “pessoas de referência do PSD como Rui Rio deviam ser cabeça de lista em círculos eleitorais para que possam ganhar as eleições”.
Em entrevista ao Observador, o ex-ministro da Presidência, Nuno Morais Sarmento, teceu elogios a Rui Rio e considera que tem perfil tanto para presidente do partido como para Presidente da República. “Se achar que for útil [concorrer a qualquer um destes cargos, Rui Rio] tem a obrigação de estar disponível”, defende Sarmento, acrescentando que Rio é, aliás, “uma das figuras que o PSD tem e de que se deve honrar” e deve ser “visto como possível candidato a qualquer função, primeiro-ministro ou Presidente da República”.
O ex-secretário de Estado do Ambiente, José Eduardo Martins, por seu lado, assumiu estar também em reflexão sobre o futuro do PSD, embora sem assumir qualquer candidatura. “A seguir às próximas legislativas não me demitirei de defender as minhas convicções e de dar as minhas opiniões no partido”, disse ao DN este ex-secretário-geral da JSD no consulado de Pedro Duarte, acrescentando depois no Facebook que a única coisa a que é “candidato é a delegado no próximo congresso do PSD” e que não é eletivo. Este partido já acabou com a eleição do presidente em congresso, adotando eleições diretas à semelhança do que começou por fazer primeiro o PS.
Há duas semanas, Rio participou num debate organizado pela JSD, em Bombarral, ao lado do porta-voz e vice-presidente do PSD, Marco António Costa, e os dois fizeram discursos alinhados pela reforma do sistema eleitoral. Para provável “challenger” do passismo, Rio tem aparecido mais próximo da direção do PSD.
Na semana passada, o grupo Pensamento Inusitado, que reúne críticos de Passos, teve uma reunião no Martinho da Arcada sobre cultura, precisamente no dia em que o líder cumpre cinco anos à frente do partido. E seguir-se-ão uma série de debates temáticos. O que une estas pessoas? Consideram, segundo Rodrigues, que o Governo apostou “excessivamente no setor privado dependente de receitas públicas e sem controlo”, como o caso das águas e resíduos, que optou por fazer as privatizações “mais fáceis”, deixando de fora, por exemplo, os transportes públicos de Lisboa. Outro ex-dirigente desiludido com o passismo, ouvido pelo Observador, critica o facto de o atual Governo ter “encostado à direita escusadamente” e de ter feito uma guerra desnecessária com o Tribunal Constitucional.
Em 2013, nas eleições para a distrital de Lisboa, o ex-líder da JSD, Pedro Rodrigues, candidatou-se como oposição aos homens de Passos com o apoio de Nuno Morais Sarmento, ex-ministro de Durão Barroso, Alexandre Relvas, diretor de campanha presidencial de Cavaco Silva ou o ex-eurodeputado Mário David (que apoiou Manuela Ferreira Leite). Nessa altura a candidatura (perdedora) de Pedro Rodrigues foi vista como uma tentativa de marcar terreno.
O porta-voz do PSD, Marco António Costa, considera que se trata de situações “irrelevantes”. “Haverá sempre franjas do partido. Somos um partido tão grande, rico e diverso com tantas figuras, umas mais importantes, outras mais irrelevantes que, em certos momentos, gostam de aparecer a contra vapor só para se fazerem notar ou que gostam de se posicionar para um futuro que se calhar nunca chegará”, comentou, em entrevista ao Observador.