Cerca de 700 pessoas terão morrido num naufrágio no Mediterrâneo quando uma embarcação com imigrantes se virou por volta das 00h00 de domingo, ao largo da costa da Líbia. As Nações Unidas já consideram esta tragédia uma das maiores de sempre no mar Mediterrâneo e as reações não se fizeram esperar. As palavras “tragédia” e “desastre” estão na ordem do dia e há um apelo generalizado ao velho continente para se reunir e procurar uma solução.
“Genocídio”. A expressão é do primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, que não poupou nas palavras para descrever a escala do desastre humanitário às portas da Europa. “Gangues de criminosos estão a meter pessoas num barco, às vezes até sob ameaça de arma. Estão a metê-los no caminho para a morte e nada mais. É um genocídio, nada mais do que um genocídio, realmente”, disse Muscat à CNN, que explicou que a equipa envolvida na operação de resgate está “a tentar encontrar sobreviventes entre os corpos que flutuam no mar”.
O presidente francês François Hollande, por sua vez, apelou à tomada de posição da Europa, dizendo que esta deve agir face ao aumento da “situação dramática”, tendo em conta a fuga de imigrantes do norte de África que se tem vindo a intensificar desde o início do ano. O alastrar de conflitos regionais e a crescente instabilidade política, social e económica, ou ainda disputas militares e operações de movimentos terroristas e fundamentalistas, em países que viveram a Primavera Árabe, estão na origem deste êxodo para o velho continente.
Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália, também pediu uma cimeira europeia urgente, a ter lugar até ao final da semana. “Tem que ser uma prioridade. Não estamos a falar de coisas banais, mas de vidas humanas”, disse numa conferência de imprensa, considerando que o tráfico de pessoas é “um flagelo” para o continente europeu.
Da política à religião. O Papa Francisco falou no mesmo registo: “Faço um apelo à comunidade internacional, para agir de forma decisiva e rápida, para evitar que tragédias como esta ocorram novamente”, disse, citado pelo jornal italiano La Reppublica.
António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, avançou que “este desastre confirma o quão urgente é restaurar uma operação robusta de resgate marítimo e estabelecer vias legais para [que os imigrantes] cheguem à Europa”.
O líder da organização internacional Médicos Sem Fronteiras teve, à semelhança de alguns líderes europeus, palavras duras sobre a situação, e equiparou a tragédia a uma “vala comum”. “Uma vala comum está a ser criada no mar Mediterrâneo e as políticas europeias são as responsáveis”, contestou o presidente Loris De Filippi, que comparou ainda o elevado número de mortes a vítimas de uma guerra.
De Filippi sublinhou, citado pela CNN, que os países europeus devem organizar o quanto antes operações de busca e salvamento o mais próximo possível da costa da Líbia. “Perante milhares de pessoas desesperadas que fogem de guerras e de crises, a Europa tem a fronteiras fechadas, forçando as pessoas a procurar proteção e a arriscar as suas próprias vidas e a morrer do no mar. Esta tragédia é apenas o começo, mas pode e deve ser parada”.