Migrações: o ano em que mais portugueses saíram do país
É o número mais alto de sempre: 134.624 portugueses emigraram em 2014. Não é uma novidade, mas antes a confirmação de uma tendência. Em 2012, o recorde foi atingido pela primeira vez em cinco décadas, quando 121.418 pessoas saíram do país. Em 2013, o número cresceu para 128.108. Assim sendo, a subida de emigrantes em 2014 foi de 5,1%.
134.624 emigrantes são, na verdade, a soma dos números apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes a “emigrantes temporários” — 85.052, aqueles que declaram que querem ficar fora do país menos de um ano– e daqueles que dizem respeito a “emigrantes permanentes” — 49.572, que dizem não querer voltar a viver em Portugal nos 12 meses seguintes à sua saída.
Neste que é o cenário mais negro no que diz respeito a saídas do nosso país, há uma pequena nota para otimismo: o número de emigrantes temporários aumentou 14% face a 2013, ao mesmo tempo que os permanentes diminuíram quase 8%. Assim, daqueles que decidem sair de Portugal, são cada vez mais aqueles que pretendem voltar depressa. Estes números, porém, dizem respeito às intenções das pessoas que saíram e não a números concretos — nada garante que um emigrante que se declarou como “temporário” não venha a ficar fora do país mais tempo do que um ano, por exemplo.
Antes da atual vaga de emigração, foi no longínquo ano de 1966 que os valores subiram mais alto. Nessa altura, 120.239 portugueses “deram o salto”. Porém, as condições em que o faziam — de forma clandestina e, por isso, difíceis de quantificar — fazem adivinhar que o número possa ter sido ainda superior aos registos oficiais.
Quanto a imigrantes (estrangeiros que vivem há mais de um ano no país), o número aumentou 11%. Em 2013 foram 17.554 e em 2014 19.516.
Posto isto, o saldo migratório (a diferença entre os que vieram e os que saíram) é negativo. Mais concretamente, -30.056. Podia ser ainda menor, uma vez que este parâmetro não inclui as saídas dos emigrantes temporários.
Maria João Valente Rosa, demógrafa e diretora da Pordata, lamenta estes números. “As migrações são um termómetro da dinâmica das sociedades. E o que é importante percebermos aqui é que Portugal, olhando para os números do saldo migratório, perdeu o seu interesse. Quando saem mais pessoas do que aquelas que entram, é sinal de que há falta de interesse no país”, explicou ao Observador.
Envelhecimento: por cada 100 jovens, há 141 idosos
É outro recorde. Nunca houve tantos idosos (pessoas com 65 ou mais anos) para tão poucos jovens (pessoas com 15 anos ou menos). Em 2014, foram 141 idosos para 100 jovens.
Não é, como o gráfico mostra, nenhuma surpresa. Desde 1971 que aumentam os idosos e diminuem os jovens — nessa altura, eram 34 para 100, respetivamente. Em 2000, os números entre um e o outro grupo etário eram iguais. E no ano seguinte já tinham dado a volta. 102 idosos para cada 100 jovens.
Surpreendente é a evolução do índice de envelhecimento entre 2004 e 2014. Em apenas dez anos, subiu mais de 30%.
Mais na pré-reforma do que aqueles em início de carreira
É outra tendência confirmada em 2014. A cada 100 pessoas entre os 55 e 64 anos (portanto, mais perto da reforma) houve 83,5 portugueses em idade de começar a carreira (20 a 29 anos).
A tendência já vem de trás, mas os números só deram a volta de 2009 para 2010. No primeiro, o índice de renovação da população ativa foi de 100,6 e no seguinte já foi 96,2.
Vivemos cada vez mais anos…
Em média, cada mulher portuguesa viverá até aos 83 anos de idade. Os homens ficam pelos 77 anos.
Feitas as contas, a esperança média de vida em Portugal fixa-se nos 80,24 anos de idade. A barreira dos 80 anos já tinha sido quebrada no triénio de 2011—2013, segundo números do INE, que na altura fixou os 80,13 como o número de anos que, em média, os portugueses vivem.
… e estamos cada vezes mais dependentes na terceira idade
Para cada 100 pessoas em idade ativa (dos 15 aos 64 anos) há 31,1 idosos (65 anos ou mais).
O índice de dependência de idosos tem crescido de forma gradual mas visível: nos últimos dez anos subiu 21%.
Número de filhos por cada mulher subiu
Quanto ao índice sintético de fecundidade, os números apresentam algumas melhorias, embora bastante residuais. Em 2013, cada mulher tinha em média 1,21 filhos. Em 2014, o número subiu para 1,23.
Apesar desta subida, este índice confirma que as famílias portuguesas estão mais próximas de ter apenas um filho do que dois — o mínimo para permitir uma renovação de gerações. 1982 foi o último ano em que tal aconteceu — nessa altura, cada mulher tinha 2,08 filhos.
Mais funerais do que festas de 1º aniversário
Em 2014, a diferença entre nascimentos e mortes em Portugal foi de -22.423.
A última vez que nasceram mais pessoas do que aquelas que morreram no país foi em 2008. Nesse ano, o saldo natural foi de 314.
Ainda assim, a tendência não foi exclusivamente negativa. Ao todo morreram 104.790 pessoas no ano passado — ou seja, menos 1,6% do que os 106.545 óbitos registados em 2013.
E, por tudo isto, somos cada vez menos…
No final de contas, há cada vez menos pessoas a viver em Portugal. Ao todo, somos 10.375 milhões.
Desde 2010 que vive menos gente no país. Nesse ano, eram 10.573 milhões. Ou seja, desde essa altura, Portugal perdeu 1,87% da sua população.
… e em 2060 seremos muitos menos
Segundo números da Comissão Europeia, Portugal terá cerca de 8 milhões de pessoas em 2060. Ou seja, daqui a 45 anos, a população deverá diminuir 21,6%.
Isto faz de Portugal um dos países que vai registar uma das evoluções de população mais negativas nos próximos anos de todos os membros da União Europeia. Pior só a Grécia (-22,5%), a Bulgária (-24,8%), a Letónia (30,7%) e, por fim, a Lituânia (38,1%).
Texto: João de Almeida Dias
Infografias: Andreia Reisinho Costa