Escrever uma informação em aparelhos digitais e esclarecer dúvidas na internet pode prejudicar a memória? A resposta é controversa, mesmo no meio científico.

Um relatório recentemente publicado pela empresa de cibersegurança Kaspersky Lab sugere que sim. O relatório estabelece uma relação direta entre a alta dependência do uso de computadores e motores de busca (como o Google, por exemplo) e o enfraquecimento da memória das pessoas. E indica que a informação adquirida dessa forma tem mais probabilidades de vir a ser imediatamente esquecida.

O relatório, intitulado “O crescimento e o impacto da amnésia digital”, sugere que o facto de as pessoas acreditarem que conseguem encontrar uma informação em meios digitais faz com que elas mesmas se esqueçam de informações importantes.

O estudo da Kaspersky Lab examinou os hábitos de memória de seis mil homens e mulheres, com idade superior a 16 anos, do Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Bélgica e Luxemburgo. Os investigadores descobriram que 36% dos europeus – mais de um terço – afirmaram procurar as respostas às suas dúvidas online, numa primeira instância, em vez de se tentarem lembrar delas. Ao mesmo tempo, 24% admitiram que esquecem a informação pouco depois.

Os investigadores perguntaram ainda aos elementos desta amostra que são pais se sabiam de cor o número de telefone dos seus filhos, e se sabiam de cor o número da escola dos filhos. A vasta maioria não sabia o número da escola, e mais de metade dos pais tiveram de procurar o número de telefone dos filhos para responder à pergunta.

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Maria Wimber, uma investigadora da universidade de Birmingham que colaborou com a Kaspersky Lab, afirma que “repetir passivamente informação, assim como procurar constantemente informação na internet, não cria uma memória sólida e duradoura”. O esforço de recordar informações, que Maria Wimber considera fortalecer as memórias mais relevantes (fazendo esquecer as mais irrelevantes) é o que descreve como “uma forma muito eficiente de criar uma memória permanente”.

Mas a ideia não é consensual. Um estudo anterior, realizado por dois investigadores da Universidade da Califórnia, defende que a internet, em vez de enfraquecer a memória das pessoas, pode ajudar os utilizadores a usarem-na melhor. Benjamin Storm e Sean Stone garantem que o facto de as pessoas poderem esquecer uma informação que sabem estar guardada algures pode trazer vantagens, libertando recursos cognitivos para ser mais fácil apreender informação nova.

O tema permanece em discussão, mas se quer ficar a saber se a sua memória é boa – e eventualmente quiser até relacioná-la com o seu grau de uso dos meios digitais -, então pode fazer este teste de memória. Fica a nota: quem acertar cinco ou seis respostas, do total das dez perguntas que compõem o teste, é porque tem uma memória normal.