O processo que envolve a FIFA e que já levou à detenção de vários atuais e antigos dirigentes do órgão máximo que tutela o futebol mundial pode estar a chegar a empresas de marketing desportivo ligadas a importantes empresas de comunicação social.

A Reuters cita arquivos de segurança e documentos governamentais para referir que uma empresa de marketing desportivo, chamada T&T Sports Marketing Ldt, que foi indiciada este mês pelo seu “apoio” a funcionários corruptos, tem ligações de longa data com a empresa americana 21st Century Fox que faz parte do império da comunicação do multimilionário Rupert Murdoch.

Ou seja, citando fontes ligadas ao processo, a agência de notícias refere que os procuradores americanos estão, com isto, a estender a investigação a empresas de comunicação que podem ter alguma coisa a ver, ou podem ter algum conhecimento, sobre os alegados subornos praticados por altos dirigentes da FIFA.

Já no passado mês de maio, quando os procuradores responsáveis pelo processo anunciaram a abertura da investigação ao organismo, se falava, em documentos oficiais, de “uma série de emissores e anunciantes” sem se especificar, no entanto, o seu papel.

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O que se sabe neste momento, e segundo a Reuters, é que a 21st Century Fox enunciou, no ano passado, a T&T como subsidiária à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. Mas, segundo alguns documentos oficiais americanos e argentinos, o investimento nesta empresa data de, pelo menos, 2002. No entanto, uma porta-voz da Fox referiu à Reuters que esta empresa não detém qualquer controlo operacional da T&T, recusando-se a fazer mais comentários sobre o assunto.

Nos documentos, de dia 3 de dezembro, e onde se refere o nome da T&T, afirma-se que três executivos “filiados” com a empresa subornaram pelo menos 15 altos funcionários de futebol para garantir o apoio à exclusividade dos direitos de transmissão televisiva de eventos como a Copa dos Libertadores (correspondente à Liga dos Campeões na América do Sul). Estes três executivos estavam, na altura, na Torneos y Competencias, uma empresa de marketing desportivo da Argentina.

Um destes três visados é Alejandro Burzaco, antigo presidente da Torneos, e que foi envolvido num esquema de suborno nos Estados Unidos no passado mês de maio num processo onde se declarou como culpado. Os outros dois foram descritos pelas autoridades como “co-conspiradores” mas os seus nomes não foram referidos. Apesar de tudo a Torneos, que detém juntamente com a Fox a T&T, não foi acusada.

Da mesma maneira, a Fox não foi indiciada nos documentos governamentais citados e nem a companhia de comunicação norte-americana, nem a T&T estão acusadas de quaisquer delitos.

A Reuters explica ainda que nos documentos de indiciação não se esclarece como a T&T, que está registada nas ilhas Caimão, pode ter beneficiado com os contratos de exclusividade visto que não é uma emissora. No entanto podia, ao adquirir estes direitos de transmissão, revendê-los a outras grandes emissoras – no caso da Copa dos Libertadores quem terminou com os seus direitos foi a 21st Century Fox.

Apesar disto tudo, uma empresa de comunicação social só poderia ser criminalmente responsável numa investigação deste género se beneficiasse de um suborno ou se os seus funcionários tivessem total conhecimento ou se ignorassem propositadamente uma situação destas. Ou seja, a propriedade numa subsidiária ou a filiação a uma empresa envolvida num esquema de corrupção não é suficiente para uma companhia de comunicação ser acusada.

Ora, e como conta a Reuters, o documento diz que a T&T é detida em parte pela Torneos e em parte por um “grupo de investidores que inclui uma afiliada a um grande grupo de comunicação sediado nos Estados Unidos cuja identidade é conhecida pelo grande júri”, sem se desenvolver mais na descrição. Mas, hoje em dia apenas duas companhias possuem ações da T&T – uma afiliada da Fox detém 75% e a Torneos, com 25%.