O Observador registou em março de 2016 42,8 milhões de pageviews, mais 51% do que em março de 2015. Tratou-se do segundo melhor mês de sempre da nossa curta história, só ultrapassado por outubro do ano passado, período excecional devido às eleições legislativas e ao início das negociações para a formação do atual Governo, após o acordo inédito do PS com a esquerda. Em março também registámos 7,9 milhões de visitas, números também eles de acordo com o Google Analytics, a ferramenta da Google que permite monitorizar o tráfego dos sites aí registados.

Até ao final de 2015 os dados de tráfego do Observador estavam integrados nas tabelas do Netscope, o ranking mensal elaborado pela Marktest, mas desde essa altura que decidimos deixar de integrar esse sistema de monitorização do tráfego por discordarmos da forma como os diferentes sites portugueses estavam, e estão, a ser medidos e apresentados. Fizemo-lo por várias razões substantivas que nada têm a ver com os nossos resultados, uma vez que continuamos a subir em todos os indicadores, algo que os dados do Netscope também atestavam. Vale por isso a pena expor com detalhe essas razões:

Medição do tráfego mobile

Numa altura de crescimento muito rápido do tráfego a partir de dispositivos móveis – smartphones e tablets – o ranking Netscope não considera todos os acessos e pageviews realizados com base em aplicações, as chamadas apps. Para ser mais exato, o Netscope não mede o tráfego das apps mais sofisticadas e modernas, as apps nativas, por não estar preparado para o fazer nem existir consenso sobre o necessário upgrade tecnológico a que a Marktest teria de proceder. Numa altura em que os consumidores utilizam cada vez mais essas apps nativas, que podem chegar a representar 10 a 20% do tráfego total, não é aceitável produzir um ranking que não considera os sites mais desenvolvidos do ponto de vista tecnológico e aqueles que estão em maior sintonia com as tendências do mercado.

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Forma como são consideradas as diferentes plataformas de distribuição

Ainda no tráfego mobile, que em sites como o do Observador representa metade do tráfego total, verifica-se uma nova tendência que é a de grandes operadores, como o Facebook (através dos Instant Articles) e, brevemente, a Google (por via das Accelerated Mobile Pages) e o YouTube, gerarem páginas simplificadas a partir dos conteúdos dos órgãos de informação, páginas essas que carregam mais depressa e, sobretudo, consomem menos dados nessa operação. Trata-se de uma audiência importante e que deverá crescer rapidamente com a colaboração e envolvimento dos próprios editores, como já está a suceder. Trata-se de um novo tipo de tráfego, multiplataforma, que consideramos que o Netscope também deve considerar e, sobretudo, que não deve criar regras que excluem algumas dessas plataformas e, depois, permitir que essas regras sejam desrespeitadas.

Critério de agregação de propriedades

Quem consulta o ranking Netscope tem a ilusão de que está a consultar um ranking em que os órgãos de informação são tratados individualmente. A verdade é que nem sempre isso acontece, uma vez que foi sendo permitido que alguns órgãos de informação incorporassem outras propriedades seguindo critérios não só duvidosos como pouco transparentes. Foi assim que, por exemplo, em 2015, as visitas e pageviews do Ocasião, um site de anúncios classificados, passassem a contar para a contabilidade do Jornal de Notícias. Já este ano sob a marca Expresso passaram a ser contabilizadas as visitas e as pageviews primeiro do Blitz e, depois, da Exame Informática. Ou seja, uma pessoa que queira comparar o Observador com o Público, com o Expresso e com o JN não o pode fazer através do Netscope. É certo que no mês em que é feita a agregação o relatório tem uma pequena nota explicativa, mas que depois desaparece e a referência perde-se. Este foi mais um ponto em que o entendimento existente entre a Marktest e o conjunto dos editores contraria, do nosso ponto de vista, regras de transparência e equidade, sendo certo que não somos os únicos a mostrar desagrado com esta permissividade.

Sendo estes os principais pontos de divergência que nos levaram a sair do Netscope, a verdade é que existem outras debilidades naquele ranking que não só criam distorções como prejudicam os editores, que criam conteúdo de qualidade, por comparação com os grandes players internacionais da indústria. É, por exemplo, discutível que o ranking considere o tráfego nacional e o tráfego internacional de forma indiferenciada ou que não valorize indicadores muito importantes, como o tempo de permanência em cada página ou no conjunto do site.

Estes temas não são detalhes: a principal fonte de receita no online é a publicidade, e sem melhores medições do que as realizadas pelo Netscope a fuga de anúncios dos editores para operadores como o Google ou o Facebook só pode agravar-se. Os seja, como também já constatou a Plataforma de Meios Privados, uma associação que reúne as principais empresas de comunicação social, utilizando apenas estas métricas é muito difícil combater a fuga de receitas para os grandes players internacionais, o que torna ainda mais difícil viabilizar economicamente o jornalismo feito em Portugal.

O Observador, que não quer ser apenas mais um órgão de informação conformado com a decadência da indústria dos media, antes já começou a provar que é possível, inovando, ter audiência, receitas e viabilidade, não podia continuar a aceitar regras que, podendo hoje beneficiar uns, mais tarde ou mais cedo acabarão por prejudicar todos. Por isso saímos do Netscope, passando a informar diretamente os nossos leitores e anunciantes com base numa ferramenta internacional reconhecida como é o Google Analytics.