Ian Burkhart, do Ohio, tinha apenas 19 anos quando, depois de mergulhar numa praia na Carolina do Norte, ficou paralisado dos ombros para baixo. Arrastado por uma onda, o estudante universitário embateu num banco de areia, provocando uma lesão na C5 (pescoço). Desde então, Burkhart tem sido apenas capaz de mexer os ombros e os braços até certo ponto. Mas, graças a um novo implante, o jovem de 24 anos conseguiu voltar a mexer as mãos e a jogar Guitar Hero.

Depois do acidente na Carolina do Norte, Burkhart fez terapia com uma equipa de médicos da Universidade Estatal de Ohio, sem nunca perder a esperança de um dia recuperar os movimentos. Aos médicos, fez sempre questão de dizer que estava disposto a colaborar em estudos ou ensaios médicos. E foi isso que acabou por acontecer.

Depois de muito ponderar, Burkhart acabou por se submeter a uma cirurgia onde lhe foi implantado um pequeno chip no cérebro. “Essa era a questão: será que queria submeter-me a uma cirurgia ao cérebro ou a qualquer coisa que me podia não beneficiar. Havia muitos riscos”, disse o jovem, citado pelo The Guardian. “Foi algo que tive de ponderar durante muito tempo mas, depois de conhecer a equipa toda e todos os envolvidos, soube que estava em boas mãos.”

O chip, implantado no córtex motor, a zona do cérebro que controla os movimentos das mãos, envia sinais elétricos para um computador (ao qual Burkhart tem de estar ligado), transformando os pensamentos do jovem em possíveis movimentos, explica o jornal britânico. Este, por sua vez, envia impulsos elétricos através da pele para os músculos, a partir de uma espécie de pulseira presa ao braço de Burkhat, facilitando a “reanimação” da sua mão direita, pulso e dedos.

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Isto significa, porém, que o aparelho só pode ser utilizado em laboratório. De acordo com a revista Nature, onde foram publicados na quarta-feira os resultados da investigação, o sistema precisa também de ser recalibrado cada vez que é usado.

Para conseguir voltar a mexer a mão, Burkhart teve de aprender a usar o computador. Durante 15 meses, dedicou três dias por semana a aprender a controlar os seus movimentos. “Inicialmente, tivemos de fazer uma sessão curta porque me senti mentalmente cansado e exausto, como se tivesse passado seis ou sete horas num exame”, contou o jovem. “Mas, com a prática, tornou-se cada vez mais fácil. Tornou-se uma segunda natureza.”

Os primeiros movimentos aconteceram em 2014 mas, desde então, o jovem aprendeu a fazer ações mais complexas e controlar com maior precisão a sua mão e dedos. Graças ao chip, Burkhart já foi capaz de voltar a jogar Guitar Hero.

Segundo Chad Bouton, engenheiro biomédico que liderou a equipa de investigadores que desenvolveu o chip que foi implementado em Burkhart, esta foi “a primeira vez que o [movimento estimulado] foi associado aos sinais que são registado dentro do cérebro. “Agora, o paciente é capaz de controlar os movimentos das mãos com os seus próprios pensamentos.”