O Porto quer ser um exemplo para a Europa. Quer indicar o caminho a outras cidades e ajudar a dinamizar a economia do continente europeu. Por isso, a Câmara Municipal da cidade (CMP) e a UPTEC (a incubadora de startups ligada à Universidade do Porto) lançaram este mês o Manifesto ScaleUp Porto, “o primeiro passo de um programa coordenado”, o ScaleUp Porto, que pretende levar a cidade a atingir “todo o seu potencial tecnológico”. Os responsáveis querem ainda destacar o papel que as cidades europeias podem desempenhar enquanto “catalisadores de ecossistemas empreendedores e sustentáveis”.
“O manifesto surge como iniciativa do município do Porto, em parceria com a UPTEC. [Trata-se de] um conjunto de linhas de ação que pensamos serem relevantes para seguir, um contributo do Porto para um movimento de scaleups que começam a surgir na Europa”, explica fonte do pelouro de Inovação e Ambiente da CMP ao Observador.
O manifesto, que defende que o Porto tem “potencial para se tornar uma referência nacional e internacional nas áreas do empreendedorismo e inovação”, estabelece três objetivos: “Promover o desenvolvimento local, centrando-se no papel das cidades como agregadores, numa rede Europeia complexa e heterogénea”; “Apoiar as empresas que estão preparadas para escalar a atingir um desenvolvimento mais sustentável e crescimento numa economia global”; e “Envolver os cidadãos e capacitá-los para que possam tirar partido do crescimento do ecossistema de inovação, que fornece novas oportunidades de emprego qualificado”.
“As novas empresas [startups] dificilmente atingirão uma fase de crescimento somente com o apoio de estruturas destinadas a uma fase early stage [inicial] (…) As startups que pretendam chegar a um estado de crescimento sustentável [tornando-se scaleups] necessitam de uma nova plataforma de apoio”, resume o manifesto.
Startups sim, mas é preciso “ir um bocadinho mais além”
O movimento estabelece um conjunto de compromissos e ideias-chave, que identificam os passos necessários para que o Porto consiga “ter mais empresas a gerar um maior volume de negócios, mais empregos e projetar todo um ecossistema que vive à custa do talento e que provém daquilo que existe à volta do Porto: excelentes universidades, que estão a formar recursos muito procurados no estrangeiro mas que temos que procurar fixar”, explica ao Observador o vereador Filipe Araújo, que esteve envolvido na elaboração do manifesto.
“Não descuramos o aparecimento de projetos de inovação, de startups, mas, para cidades como o Porto, que já assumiram um dinamismo tão grande nessa área, a questão é agora como conseguimos projetar isto [as startups] e ir um bocadinho mais além”, acrescenta o responsável, explicando o porquê de o projeto estar focado na aposta na criação e desenvolvimento de scaleups, “empresas com média de crescimento anual em colaboradores (ou volume de negócio) superior a 20 por cento, num período de três anos, considerando que têm 10 ou mais colaboradores no início do período de observação”, segundo a definição da OCDE.
“O Porto está muito bem e recomenda-se. Aquilo que vi aqui foi realmente muito interessante em termos de cidade inteligente. Estes empreendedores que fazem a ligação entre o mundo físico e o mundo digital são pessoas que estão a transformar o Porto numa cidade melhor, mais inteligente”, afirmou o comissário europeu Carlos Moedas, durante a apresentação do manifesto.
A aposta na economia digital do Porto quer ajudar a posicionar a cidade no centro da Europa, ligando-a a outras cidades que estejam também a apostar na inovação e servindo como motor do crescimento económico e do emprego. “Dentro de uma Europa que tem fronteiras muito restritas começa a surgir a aposta da Comissão Europeia na economia digital. Desenvolver uma rede europeia de cidades de scaleups pode ser um instrumento importantíssimo para ajudar as do Porto e portuguesas a crescer. Poderá dinamizar um dos maiores mercados do mundo, o mercado europeu”, explica fonte do pelouro de Inovação e Ambiente da CMP.
Tornar o Porto mais atrativo, dar-lhe visibilidade e chamar investidores
Esta criação de uma rede de cidades “facilitadoras” do desenvolvimento de empresas tecnológicas é um projeto dos responsáveis da Câmara e da UPTEC. Para já, adianta o vereador Filipe Araújo, há já contactos com outras três cidades europeias: Manchester, Eindhoven e Helsínquia:
“Temos vindo a desenvolver contactos com Manchester, Eindhoven e Helsínquia, cidades que estão muito abertas aos fatores e objetivos que identificámos aqui [no manifesto]. Este é o ritmo que a Europa pode seguir, que pode alavancar a economia europeia”, que se encontra em crescimento anémico desde a crise de 2008, detalha o responsável.
Questionado sobre as medidas específicas que serão tomadas pela Câmara da cidade para potenciar o desenvolvimento da economia digital da região, o vereador explica que não existirão “incentivos diretos a estas empresas” (scaleups), mas que há muito que pode ser feito para as fixar e ajudar a crescer:
Procuraremos criar condições para que estas empresas [scaleups] ocupem espaços atrativos, queremos trazê-las para o centro da cidade, [porque] só conseguem atrair recursos se tiverem espaço para as pessoas poderem vir trabalhar, espaços de que as pessoas gostem. A cidade pode fazer muito, investindo na qualidade de vida, em transportes públicos [de qualidade], estabelecendo contactos com outras cidades internacionais, internacionalizando a cidade, para captar talento e para dar visibilidade a estas empresas” que querem crescer, diz.
O manifesto – que “não é o fim, antes os passos que queremos dar” – terá já sequência com a organização de uma conferência na região, a “Scaleup for Europe”, que está agendada para 26 e 27 de maio. Esta “representará o ponto de partida para a criação de uma rede ScaleUp europeia” e “incluirá o congresso anual da Rede Europeia de Business Angels (EBAN)”, que trará investidores internacionais à região.
“O que estamos a fazer na Scaleup for Europe é trazer mais de 200 ou 300 investidores a conhecer o ecossistema [do Porto]. Esse também é o papel que a cidade pode desempenhar: dar a conhecer a cidade de que gostamos e que consideramos ter qualidades únicas, os nossos recursos e a qualidade de vida que podemos proporcionar”, explica Filipe Araújo, acrescentando ainda que muitos desses investidores “são alguns dos grandes investidores de startups e scaleups”, a nível europeu e mundial.
Editado por Tiago Pereira