Há vários anos que João Azevedo tinha um projeto em mente: “Ter uma marca que vendesse um produto que toda a gente precisasse e usasse” com regularidade. Há mais ou menos um ano e meio, o projeto começou a ganhar forma. Marinada a ideia, João começou a trabalhar num conceito de “chinelos ecológicos”, fabricados a partir de materiais reciclados, ideais para ir à praia ou simplesmente para passear. “Se fosse fazer algum produto, teria de ser alguma coisa neste contexto, que não fosse prejudicar o ambiente”, explica ao Observador.

O conceito deu lugar à Cima Sandals, uma marca que se prepara para começar a produzir os primeiros chinelos com cortiça nacional e borracha reciclada até finais de julho, princípios de agosto. Como? Através de uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) que João Azevedo lançou na KickStarter para obter 4.800 euros até 19 de maio. Em troca, quem investir, pode receber um par de Cima Sandals.

“Mais ou menos 70% do chinelo é natural, todo de cortiça. O resto é borracha reciclada. O objetivo [depois] é que as pessoas nos mandem o chinelo de volta, porque ele pode ser reciclado”, revela João Azevedo, acrescentando que quem o fizer será premiado com um desconto “entre os 30% a 40%” na compra seguinte.

Quando começarem a ser comercializados, os chinelos da Cima Sandals deverão estar disponíveis em nove cores. Serão produzidos numa “fábrica do Norte, de calçado”, que se associou e “acreditou” no projeto, mas de cujo nome João Azevedo não quer ainda revelar. Quanto à matéria-prima, a Cima Sandals trabalhará com um fornecedor nacional de cortiça, uma “corticeira do Alentejo”, cuja identidade o responsável também não quer adiantar. A corticeira e a qualidade da indústria do calçado em Portugal são fatores chave para que a empresa produza em solo nacional. Mas a sede está em Londres.

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“É tudo em Londres, em termos contabilísticos e em termos de empresa. A produção é em Portugal. Como o produto também vem de cá, preferimos manter a produção local. Não é preciso estar a mandar as placas [de cortiça] para a China, ferindo a qualidade de Portugal, que tem grande qualidade no [setor do] calçado. Aqui [fabricar] conseguimos um chinelo com muito mais qualidade”, diz João Azevedo.

Quem investe na marca? Os clientes, isto é, o crowdfunding

Neste momento, a Cima Sandals está a a obter financiamento através de uma campanha de crowdfunding na KickStarter, uma plataforma de pré-vendas online, que permite aos empreendedores perceberem a recetividade do seu projeto junto do público e aos clientes a possibilidade de investirem num projeto que queiram ver materializado, a troco de benefícios (as 66 pessoas que investiram mais de 24 euros na Cima Sandals, por exemplo, terão direito a pelo menos um par de chinelos — e cada par custará mais do que isso se for comprado depois da campanha, já que o preço normal por par deverá rondar os 38 a 40 euros, “numa fase inicial”).

A campanha começou a 19 de abril e tinha uma meta: recolher 4.800 euros em 30 dias. Esta segunda-feira, a 17 dias da data limite, faltam “apenas” 250 euros para o valor ser atingido. Desafiado a explicar a escolha deste modelo de financiamento, João Azevedo defende que lançar uma campanha do tipo é “uma maneira muito forte de começar uma marca”. A grande vantagem é que “permite ver se as pessoas estão recetivas, se gostam ou não do projeto”, antes de se assumir o “risco de investir”, diz. Essa possibilidade, contudo, chegou a estar em cima da mesa, já que a empresa esteve em contacto com a corticeira Amorim, que acabou por não investir no projeto por já ter uma outra marca de chinelos de cortiça (As Portuguesas).

Fui falar com a Amorim mas eles lançaram agora As Portuguesas. Na altura disseram-me que já estavam a apoiar outro produto de chinelos de cortiça. Os produtos não são bem a mesma coisa, os chinelos deles são mais as havaianas, nós [Cima Sandals] somos muito mais ecológicos, fomos muito mais por esse lado. Em termos de investimento foi só com eles que falámos. Ao princípio mostraram muito interesse mas havia esse conflito e desistiram. Já tive duas ou três pessoas em Inglaterra que me mostraram interesse em ficarem nossos parceiros, mas nesta fase estou no pré-lançamento”, diz.

“Quero que isto seja uma marca mundial”

Assim que terminada a campanha, a empresa passará à fase seguinte: “Ver os comentários das pessoas que recebem os chinelos, ver se pode haver melhorias em algum lado e depois lançar um website, para fazer as vendas online”, explica o responsável. “No primeiro ano vamos focar-nos mais na venda eletrónica”, acrescenta. E o futuro dependerá dessas vendas, mas João não esconde a ambição:

Quero que isto seja uma marca mundial, que se expanda para a Califórnia, para a Austrália, para todos os sítios que englobem esta vida mais outdoor [ao ar livre]. A ideia é fazer isto crescer bastante, o objetivo é chegar ao ponto em que o chinelo se venda muito mais barato e em quantidades muito maiores”, diz.