Donald Trump escolheu para seu “estratega e conselheiro sénior” o homem que a Bloomberg, considerou, a dada altura, “o mais perigoso operacional político da América“. O homem em causa é Steve Bannon, um empresário ligado aos meios de comunicação social e antigo líder da Breitbart News, um portal noticioso conservador que celebrou a vitória de Trump e já foi acusado, no passado, de ser um veículo incendiário de mensagens de ódio racial.
A solução para o assédio de mulheres na internet é simples: elas devem sair da internet”.
“Não há qualquer tendência no setor tecnológico quanto à contratação de mulheres, elas é que são péssimas nas entrevistas”.
“A contagem de mortes ao abrigo do programa de Planeamento Familiar de Cecile Richards já subiu para meio-Holocausto”.
“Os mecanismos de contraceção tornam as mulheres pouco atraentes e malucas”.
Estas são algumas das citações atribuídas ao portal de notícias liderado por Steve Bannon, que saiu da Breitbart News em agosto para ser figura de proa na campanha presidencial de Donald Trump. Agora, com o cargo de estratega e conselheiro sénior, ainda não é plenamente claro que influência Bannon terá na Administração Trump, já que para chefe de gabinete foi nomeada outra pessoa: Reince Priebus. Mas Trump deixou claro que um e outro estarão “em pé de igualdade“. Aliás, no comunicado que anunciava a nomeação de ambos, o nome de Bannon era referido em primeiro lugar. Além disso, ele responderá diretamente a Donald Trump.
John Weaver, o estratega de campanha de John Kasich, republicano vencido por Trump nas primárias, insurgiu-se contra a nomeação de um “racista anti-semita” para um cargo em que fica ao mesmo nível que o de chefe de gabinete.
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Em 2012, com a morte por ataque cardíaco de Andrew Breitbart, Steve Bannon assumiu-se como herdeiro dos objetivos de Breitbart, outro empresário dos media que criticava a “imprensa liberal de esquerda” que, na sua opinião, dominava as notícias. Bannon viria a ser o criador e curador da Breitbart News, na altura assumindo o objetivo de criar o “Huffington Post da direita“. Foi na Breitbart News que ascendeu à fama Milo Yiannopoulos, um blogger que viria a ser expulso da rede social Twitter pelo teor dos seus comentários.
2016 foi o ano da consagração para a Breitbart News, em parte graças às várias entrevistas exclusivas que Trump lhes deu no início da campanha. Em outubro, a Breitbart News teve mais audiência do que a ABC News.
Meses antes, contudo, na redação da Breitbart News, gerou-se entre os jornalistas muita preocupação porque muitos deles consideravam que se tinham tornado um “site de fãs” de Donald Trump. Houve demissões em bloco de jornalistas, mas as audiências continuaram a subir. Em agosto, Bannon tirou uma licença para ir trabalhar na campanha de Trump e o plano era voltar às suas funções após as eleições. Mas, com a vitória de Trump, acabou por ser nomeado para a nova administração.
A nomeação de Bannon está a ser muito criticada por uma associação de judeus americanos, a Anti-Defamation League, que considera a nomeação um “ataque aos valores americanos”. Steve Bannon é visto como um dos líderes do movimento “alt-right“, a direita alternativa.
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Bannon, hoje com 62 anos, foi acusado, em 1996, de violência doméstica. A sua ex-mulher viria a fazer um retrato muito crítico do líder da Breitbart: “Ele odeia judeus e não gosta da forma como os judeus criam os filhos, transformando-os em pirralhos mimados, e não queria que as nossas filhas andassem na mesma escola que os judeus”, afirmou a ex-mulher de Bannon, Mary Louise Picard. O movimento alt-right acusa frequentemente os judeus de liderarem um império internacional de controlo económico e mediático.
Nasceu na pequena cidade de Norfolk, na Virginia, numa família pobre de apoiantes do Partido Democrata. Após os estudos, inscreveu-se na Marinha e terá sido aí que a sua identidade política se formou — é recordado como alguém muito crítico da liderança do Presidente Jimmy Carter, um Presidente democrata que, segundo Bannon, “estragou tudo”. “Eu não ligava muito à política até que fui para a Marinha e vi como Carter estava a f…. tudo”, afirmou à Bloomberg. Tornou-se um admirador de Ronald Reagan — “ainda sou”, afirmou.
Quando saiu da Marinha, voltou aos estudos e, depois de um MBA em Harvard, arranjou emprego na Goldman Sachs, onde se apaixonou pelo setor dos investimentos. Aí permaneceu até 1990, altura em que fundou uma firma de investimentos com alguns ex-colegas, e foi aí que conquistou mais algum poder económico, que lhe permitiu começar a entrar no setor dos media.
Foi na Breitbart News que muitos teóricos da conspiração encontraram um local seguro para chegarem a uma audiência cada vez maior. Sob a liderança de Bannon, a Breitbart News publicou peças como as “1001 razões por que o aquecimento global está tão fora em 2016” e “Não há qualquer tendência no setor tecnológico quanto à contratação de mulheres, elas é que são péssimas nas entrevistas“.
A nomeação de Bannon está a ser vista, pelos jornais mais tradicionais, como a entrada oficial do movimento alt-right no poder nos EUA.