O Presidente da República garantiu esta quinta-feira à artista Paula Rego, durante uma visita ao seu ateliê de trabalho em Londres, que os portugueses têm muito orgulho na sua obra, apesar da modéstia da pintora.

“Em Portugal, as pessoas gostam muito de si. Estão muito gratas porque quando se fala do mundo, um nome que vem logo à cabeça é o seu. Não sabe como é importante? Ah, sabe, não me diga que não sabe!”, disse Marcelo Rebelo de Sousa à artista radicada no Reino Unido.

“Não sei, não”, respondeu Paula Rego, ao que o Presidente retorquiu: “Não é só aqui, é em todo o mundo que as suas obras são importantes. Gente de todo o mundo aprecia, valoriza. E aqueles que podem, compram”.

O Presidente justificou a visita à artista em Londres, lembrando a expressão que seria como “ir a Roma e não ver o Papa” e durante o tempo todo agarrou Paula Rego pela mão, fazendo perguntas e ouvindo as histórias das obras.

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Apesar da idade de 81 anos e da saúde débil, Paula Rego continua a trabalhar quatro dias por semana no ateliê, situado no norte de Londres, repleto de material de pintura e esculturas que servem de modelos às obras.

Ao Presidente, mostrou a última série de telas em que trabalhou este ano, inspiradas na obra de Hélia Correia intitulada “Bastardia” e falou de como as obras da sua infância influenciam a sua obra, que admitiu ser muitas vezes triste.

O filho, Nick Willing, revelou que em março próximo irá estrear uma longa-metragem em Portugal sobre as histórias e que coincidirá com uma nova grande exposição no Museu Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais.

“Ela só pensa nas obras que vai fazer a seguir”, disse.

Questionada sobre se sente saudades de Portugal, Paula Rego lamentou que tenha perdido a quinta da família na Ericeira, mas afirmou que o seu país está nas suas memórias e também no seu ambiente de trabalho.

Se de manhã começa por ouvir ópera, “La Traviata”, de Giuseppi Verdi, à tarde inspira-se ouvindo fados de artistas como Amália e Camané.

À saída do espaço, o Presidente confessou a admiração pela pintora, cujo museu em Cascais é muito próximo da sua residência e o qual frequenta regularmente.

“Já a encontrei várias vezes em Portugal. Mas é completamente diferente encontrá-la no convívio pessoal ou social, outra coisa é ouvi-la falar da sua vida e da sua obra. E hoje felizmente estava interessada em falar, quer do futuro, quer do passado”, disse aos jornalistas.

Na opinião do chefe de Estado, “embora muito modesta, ela é uma referência excecional de Portugal no mundo” e que está no grupo dos melhores artistas portugueses ou europeus contemporâneos.

“Não deixa de ser excecional que ela não tenha noção disso. Confirma a teoria de que os génios são muitas vezes modestos, não têm noção da genialidade”, concluiu.

O Presidente da República termina esta quinta-feira uma visita oficial de dois dias a Londres, onde se encontrou com potenciais investidores, a primeira-ministra, Theresa May, e elementos da comunidade portuguesa.

O último compromisso do programa é um encontro pessoal no Palácio de Buckingham com a rainha Isabel II.