Os jovens que vivem com pais desempregados revelam maiores fragilidades ao nível do bem-estar psicológico e têm piores expectativas educacionais, sendo que as raparigas são mais vulneráveis a esta situação, revela um estudo sobre crise económica, desemprego e família, da investigadora Diana Frasquilho, que vai ser discutido durante o Fórum “Crises Socioeconómicas e Saúde Mental”, esta quinta e sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian.

O trabalho centrou-se no impacto da recessão económica, em particular do desemprego, na estrutura familiar e na saúde mental e bem-estar de adultos desempregados e dos adolescentes que vivem com pais desempregados.

Entre os principais resultados do estudo, ressalta o facto de os jovens que vivem com pais desempregados, quando comparados com os que vivem com pais empregados, relatarem significativamente piores resultados ao nível do bem-estar psicológico e de expectativas educacionais, “percecionando as repercussões da crise económica de forma mais intensa”.

Os fatores de maior vulnerabilidade são o desemprego paternal, a baixa situação sócio-económica, ser rapariga, os jovens mais novos e os rapazes mais velhos cujo pai está desempregado.

As pessoas desempregadas e os seus familiares constituem um grupo da população mais afetado pelas consequências da recessão económica, tais como dívidas, já que os adultos desempregados têm uma “alta prevalência de sofrimento psicológico e de insatisfação com a vida”.

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Estes fatores foram particularmente notórios em mulheres desempregadas, idosos, pessoas com baixa escolaridade, solteiros, pais e mulheres cujos parceiros não tinham emprego.

“A pior saúde mental foi também mais prevalente nos adultos desempregados com menor capacidade em estruturar o seu tempo e naqueles com maior privação financeira”, acrescenta o estudo.

Além da “diminuição substancial” das despesas do agregado familiar, o desemprego foi também responsável por alterações no relacionamento familiar (mais atrito e parentalidade mais rigorosa), bem como alterações no bem-estar psicológico dos pais e dos filhos (maior preocupação, irritabilidade, raiva e tristeza).

O estudo salienta, contudo, que “a qualidade das relações familiares parece moderar a associação entre o desemprego parental e o bem-estar psicológico dos jovens”.

Ou seja, as relações familiares – bem como a capacidade financeira e a estruturação do tempo – são apontadas como “fatores modificáveis” e, por isso, potencialmente moderadores desta relação entre bem-estar psicológico e desemprego parental, desde que sejam alvo de intervenções que as transformem positivamente.

Nesse sentido, o estudo defende intervenções urgentes para proteger adultos e jovens durante esta “recessão económica histórica” e para diminuir as desigualdades na saúde e as despesas sociais.

“A identificação destes fatores modificáveis associados ao bem-estar dos adultos, família e filhos no contexto de desemprego é essencial, sobretudo porque Portugal enfrenta uma recessão económica histórica apresentando uma das mais elevadas taxas de desemprego na Europa, e porque as intervenções para proteger adultos e jovens durante este período em particular, são urgentemente necessárias”, refere.

Além de poderem diminuir as desigualdades na saúde e as despesas sociais para o país, estas intervenções poderão maximizar as oportunidades de vida, assumindo “um papel fundamental para alcançar uma população mais saudável e produtiva”.