O Presidente da República fez, esta terça-feira, ‘mea culpa’, considerando que não faz sentido defender a privatização da RTP, como ele próprio defendeu em tempos, e que a estação pública de televisão deve continuar como está.

Eu fui o primeiro a dizer o seguinte: ‘mea culpa’, porque eu tinha também aderido, em certa altura, àquilo que foi uma moda que foi defender a privatização da RTP “, declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, reiterando o que tinha afirmado numa intervenção feita pouco antes.

O chefe de Estado, que falava à saída de uma cerimónia de comemoração dos 60 anos da RTP, acrescentou: “Hoje admito que aquilo que defendi há 20 anos ou há mais de 20 anos não faz sentido em Portugal. A RTP deve estar como está, deve continuar a fazer o que está a fazer, com novos meios, com novas plataformas“.

Segundo o Presidente da República, deve haver na comunicação social televisiva em Portugal “uma entidade pública e entidades privadas, atuando naturalmente num são pluralismo e concorrência”.

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Marcelo Rebelo de Sousa voltou a recusar responder diretamente se considera que o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, tem condições para se manter em funções.

Mas que teimosos! Eu já disse que em matéria financeira o que eu tenho a dizer é sempre o mesmo: estabilizar, consolidar, reforçar. É o que se está a fazer, é que o se vai fazer”, respondeu aos jornalistas.

O chefe de Estado acrescentou que é isso que “têm de fazer todos, os responsáveis das instituições de supervisão, os responsáveis das instituições financeiras”, que “está a fazer o Governo” e “o Presidente também deve ajudar e tem tentado ajudar”.

Sem nunca falar especificamente de Carlos Costa, o chefe de Estado repetiu a mesma mensagem de unidade que transmitiu na segunda-feira: “Todos estamos a remar na mesma direção”.

Nós temos de reforçar e temos vindo a reforçar os bancos e outras entidades financeiras. Ainda há algumas operações em curso, ainda há processos que estão a correr. É preciso que terminem bem, e é nisso que estamos apostados, isso é que é fundamental”, completou.

Antes, na intervenção que fez nesta cerimónia da RTP, o Presidente da República sustentou que o aparecimento da televisão portuguesa constituiu “o primeiro passo para o termo do salazarismo e o esboçar de um mundo novo”.

No seu entender, “o regime ainda acreditou que podia domesticar a RTP, como no fundo todos os governantes, mesmo em democracia, ao menos por uns segundos, sonharam poder fazer, sempre sem sucesso”.

Marcelo Rebelo de Sousa partilhou “recordações deslumbradas” da sua infância associadas à televisão e apontou a RTP como talvez o melhor presente que recebeu entre os 6 e os 12 anos de idade, “altura em que a adolescência conheceu outros temas e outras metodologias de conhecer e gozar a vida”.

Quanto à privatização da RTP, declarou: “Hoje [terça-feira], que passou um quarto de século sobre a chegada dos concorrentes e soçobrou a moda tentadora — a que não fui, há décadas, imune — de acenar com privatizações, mais totais ou mais parcelares, os portugueses já se acomodaram ao papel renovado e virado para o futuro da RTP”.

No final do seu discurso, o Presidente da República expressou reconhecimento à RTP em nome dos portugueses, dizendo que “eles a pagam todos os dias e querem continuar a vê-la como sua e, nessa medida, de Portugal”.