Um icebergue com quase seis mil quilómetros quadrados — o equivalente à area do distrito de Portalegre ou mil quilómetros quadrados maior do que o Algarve — desprendeu-se esta quarta-feira da plataforma continental da Antártida, ficando à deriva no Oceano Antártico. Estes dados foram disponibilizados depois de os investigadores terem analisado imagens captadas por satélites durante esta manhã. É uma plataforma com 350 metros de espessura que já estava prestes a desprender-se há vários meses. No mês passado, quando a plataforma já estava presa ao continente por apenas 20 quilómetros de gelo, os cientistas já adivinhavam para breve o desprendimento do maior icebergue de sempre. No dia seguinte, já só faltavam 13 quilómetros.
Em maio, já se faziam as contas ao tamanho deste icebergue monstruoso, que agora se vai chamar A68: é 300 vezes maior do que aquele que provocou o naufrágio do Titanic. Apesar de ter apenas metade do tamanho do icebergue B-15, que se separou da plataforma de gelo Ross em 2000, este é um dos dez maiores icebergues do planeta Terra.
Os cientistas não têm provas de que a fissura tenha aparecido devido às alterações climáticas, apesar de as outras duas plataformas — Larsen A (1995) e Larsen B (2002) — se tenham desprendido por causa dos efeitos do aquecimento global. A abertura de uma fenda entre aquele bloco e o continente, que se alastrou a uma velocidade impressionante nos últimos seis meses, levou agora à inevitável separação entre os blocos. Só entre entre 25 e 31 de maio, menos de uma semana, a fenda aumentou 17 quilómetros: foi a maior abertura documentada desde janeiro deste ano. Mais tarde, entre 24 e 27 de junho, a fenda começou a aumentar, em média, 10 metros por dia.
Esta separação era esperada pelos cientistas, que há mais de dez anos seguiam uma grande fenda, cuja propagação se acelerou a partir de 2014. A massa de gelo, com 200 metros de espessura, não deverá mover-se para longe nem muito depressa, mas deverá continuar a ser monitorizada. Correntes e ventos podem eventualmente empurrar o icebergue para norte do Antártico, o que causaria dificuldades à navegação. Também é provável que o novo icebergue se separe em breve em blocos de gelo mais pequenos.
Segundo a Agência Espacial Europeia (AEE) e o cientista Noel Gourmelen, da Universidade de Edimburgo, o icebergue tem 1.155 quilómetros cúbicos de gelo, equivalente à água necessária para encher 462 milhões de piscinas olímpicas. No entanto, o desprendimento do icebergue não vai ter um efeito significativo no aumento do nível da água do mar: conforme as explicações de Anna Hogg, especialista em observações de glaciares através de satélite, o facto de este icebergue estar agora à deriva é semelhante a colocar um cubo de gelo dentro de um gin. Apesar de significativo, este evento não tira o sono dos cientistas: não há indícios de que isto signifique que a plataforma Larsen se esteja a desintegrar, muito menos de que esta fenda em si tenha sido provocada pelos efeitos das alterações climáticas. Significa, isso sim, que a plataforma está mais instável.