José Lima, militar da Força Aérea há mais de 30 anos, estava a passar o dia de quarta-feira com a família na praia de São João. Foi atingido por uma avioneta quando estava a passear com a neta, de quatro anos.
Especialista em secretariado de apoio e serviços (SAS) e há quatro anos na reserva, partiu de Moselos, freguesia de Campo, distrito de Viseu, para se juntar à Força Aérea, onde permaneceu o resto da sua vida profissional. Trabalhou em diversas bases aéreas, mas foi na de Alfragide que conheceu Manuel, o homem que sempre o considerou como seu “melhor amigo”. Amigos há 30 anos, trabalharam juntos durante oito no Comando Aéreo de Monsanto e na Base Aérea de Alfragide.
Manuel caracteriza-o como “um excelente profissional”, mas também como um “brincalhão”, “uma pessoa bastante positiva” e “com uma paixão louca pela família”, em particular pela neta. “Nunca vi aquele homem triste ou chateado, estava sempre a 100% para tudo e todos. A sua família e amigos eram tudo, daria a vida por eles”, conta o amigo ao Observador.
Zé, como era tratado pelos amigos, estava na praia com a mulher, as duas filhas e a neta. Esta sexta-feira, dia em que se realiza o velório, faria 33 anos de casado e tinha planeado ir de férias com a família para o Algarve.
Benfiquista ferrenho, não perdia uma oportunidade para fazer provocações clubísticas aos colegas da base, especialmente se o seu clube vencesse. Vivia em Almada, adorava praia e a música era uma das suas grandes paixões. “Adorava música. Tocava órgão e levava-o sempre para todo o lado. Era muitas vezes contratado para animar casamentos e batizados”, explica Manuel.
Segundo o amigo, José Lima “cantava muito bem” música popular portuguesa e não se coibia de o fazer “nos corredores do local de trabalho”. “Ele tinha jeitinho para aquilo. Andava sempre a trautear as letras das músicas para não as esquecer.”
O atual presidente da Junta de Freguesia de Campo, Carlos Lima, também recorda a faceta musical de José Lima. Com 10 anos de diferença, sempre que se lembra do conterrâneo vêm-lhe à memória as atuações da banda Índice — onde Zé Lima era teclista — nos bailes de inspeção, que serviam de “despedida dos homens que iam para a tropa”.
A banda, da qual fez parte seis anos até 1986, foi uma “referência na região”, acrescenta o autarca. João Pedro Lemos, companheiro de banda de José, recorda-o como alguém “extremamente divertido”, “alegre” e “talentoso”, mesmo sem tendo formação musical. “Era um moço incrível”, acrescenta.
Aliás, a música, refere Carlos Lima, era a sua imagem de marca e uma “tradição de família”: o irmão era guitarrista e o pai foi responsável pelo coro da igreja durante vários anos. Católicos praticantes, a família era presença constante na igreja da aldeia.
Sofia, a menina que gostava de dançar
Também Sofia, a outra vítima do acidente de aviação desta quarta-feira, era católica praticante. Frequentava o terceiro ano da catequese na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica todas as quartas-feiras. “Era uma criança muito interessada, amiga do amigo e que gostava muito de partilhar o dia-a-dia com os seus colegas de catequese”, conta a catequista Sofia Antunes, que a acompanha desde o primeiro ano de catequese, ao Observador.
Sempre que possível, acrescenta, a criança de oito anos e a sua família frequentavam a missa da catequese, que se realiza na igreja de Benfica todos os sábado às 16h15.
Descrita como uma menina “assídua” e que “praticava dança”, planeava fazer a primeira comunhão, a profissão de fé e o crisma para o ano, como explicou fonte da paróquia.
O Externato Grão Vasco, onde estudava, não quis deixar de prestar homenagem à aluna, que adorava cor-de-rosa. “O céu ganhou um anjo e uma nova estrela, perdemos a nossa Querida Sofia António. Aos Pais, familiares e Amigos, os nossos sentidos pêsames. Sofia, estarás sempre no nosso coração”, lê-se na publicação de Facebook.
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O velório de José Lima realiza-se esta sexta-feira ao final da tarde, na Capela de Moselos, e o funeral ocorrerá no mesmo sítio, no sábado, às 15h. O funeral de Sofia António terá lugar na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo em Benfica, este sábado às 15h30.