A oposição timorense apresentou esta quinta-feira uma moção de rejeição do programa de Governo, no final do debate que começou na segunda-feira. A moção é subscrita pelos três partidos da oposição de Timor-Leste e contesta quer o conteúdo do documento, quer a forma “insensata” como o executivo foi formado.
O texto de seis páginas foi assinado pelos líderes das três bancadas da oposição, Arão Noé Amaral (CNRT), Fidelis Magalhães (PLP) e Luís Roberto da Silva (KHUNTO), que entre si representam 35 dos 65 deputados. O CNRT é presidido por Xanana Gusmão e o PLP por Taur Matan Ruak, dois líderes históricos do país. A Constituição prevê a queda do Governo, liderado por Mari Alkatiri e apoiado pelos 30 deputados da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e do Partido Democrático (PD), se o programa for rejeitado duas vezes.
No documento, os signatários referem que o Presidente da República nomeou um primeiro-ministro “sem se preocupar com a falta de uma maioria parlamentar” e afirmam que, apesar de a decisão não ser inconstitucional, é “politicamente insensata e imprudente”. Deveria o Presidente da República, argumentam, “ter procurado soluções alternativas de Governo com apoio maioritário no Parlamento Nacional, seguindo assim o exemplo dos seus antecessores”.
Os signatários do documento consideram que o VII Governo “carece de legitimidade política face à ausência de uma maioria parlamentar disponível para apoiar a sua ação governativa”. O texto sustenta que, sem o apoio de uma maioria parlamentar, o executivo deveria ter adotado “uma postura de abertura, diálogo e de convergência programática com os partidos políticos que formam a oposição” no parlamento. Isso, consideram, “efetivamente não se verificou, apesar de a abertura e disponibilidade demonstradas pelos partidos da oposição”.
“Através das intervenções que realizaram durante a discussão do Programa do Governo, os membros do VII Governo constitucional não conseguiram suprir as insuficiências deste documento, nomeadamente no que se refere à apresentação das tarefas que se propõe realizar e das medidas a adotar para a concretização dos objetivos”, refere o texto. O documento reafirma o que diz ser “o empenho do Parlamento Nacional em prosseguir esforços no sentido de discutir e aprovar políticas públicas representativas dos anseios e aspirações da maioria das cidadãs e dos cidadãos timorenses”.
Sobre o programa em si, a moção contesta “a proclamação de objetivos genéricos” e sem medidas ou ações concretas no que toca à continuidade de políticas anteriores. “O Programa não dá resposta aos principais desafios que se colocam ao processo de desenvolvimento de Timor-Leste e não contribui para a melhoria sustentável e duradoura das condições de vida do nosso povo”. Além disso, o programa é “inconsistente” porque defende uma política “expansionista” de investimentos públicos ao mesmo tempo que quer assegurar a sustentabilidade das contas públicas, sem detalhar a política de receitas ou sem detalhar “princípios ou estratégias consistentes” em termos de reforma fiscal.
A oposição contesta também a proposta do Governo de criar quatro novas zonas especiais de economia social de mercado, sem apresentar estudos que avaliem os resultados da já existente, no enclave de Oecusse-Ambeno e dizem que o executivo quer privatizar o setor da água “sem estudos prévios”. Sustenta que o programa cria confusão ao tentar “fazer coincidir” as “funções militares com as funções de segurança e refere que o documento não contém uma política adequada de controlo das fronteiras.
A oposição diz ainda que o programa “não reflete de forma adequada a filosofia subjacente às opções estratégicas” do Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional e denuncia o “irrealismo e insustentabilidade das políticas propostas” para o setor da justiça. O texto refere também a proposta de criar a Cidade Metropolitana de Díli e não acautelar suficientemente as políticas em curso para fortalecer os sucos, equivalente a freguesias em Timor-Leste.
Entre os exemplos, a oposição contesta o que diz ser a intenção do Governo de condicionar a implementação dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE) – as escolas de referência – à realização de uma avaliação desse programa. E considera que o programa não acautela devidamente a promoção de políticas de inclusão e proteção dos grupos sociais mais vulneráveis, especialmente os idosos.
O primeiro-ministro timorense iniciou na segunda-feira a defesa do programa do seu Governo. O executivo liderado por Mari Alkariti ganhou com minoria no parlamento. Bastam duas moções de rejeição para o executivo deixar de exercer funções. A situação tem levado à instabilidade política no país, com os partidos da oposição a questionarem a interpretação dada à constituição timorense sobre o partido com mais votos formar governo. Na quarta-feira o atual primeiro-ministro havia declarado que tinha o apoio do CNRT.