Preparação, networking, dose certa de insistência e um olho atento aos eventos paralelos. Lisboa está prestes a receber o maior evento de inovação e tecnologia da Europa, a Web Summit, e de grandes empresas às mais pequenas startups já todos se preparam. Celso Martinho, presidente executivo da Bright Pixel, Luís Vieira, vice-presidente executivo da Portugal Ventures, Nancy Brito, sócia da Semeia Ventures e Walter Palma, diretor da Caixa Capital, estiveram na Fnac Chiado a falar sobre aquilo que a maioria das startups procura: investimento.
Na segunda sessão do Startupmania, promovido pela sociedade de advogados CCA Ontier, os especialistas em capital de risco falaram da experiência que têm na Web Summit e do que os empreendedores devem esperar destes eventos. Sim, eventos no plural, porque, como disse Celso Martinho na sessão, “há dois Web Summit: um nos pavilhões, o outro na cidade”.
“Há um segundo Web Summit depois do evento”
Martinho, que foi fundador do Sapo.pt e fez parte da chegada da Internet a Portugal, explica: “Há um segundo Web Summit depois do evento”. A frase, que teve aprovação de todo do painel, foi complementada por Nancy Brito: “Nos eventos paralelos há oportunidades para estar em momentos mais descontraídos”.
A business angel deixou o conselho a quem procura nesses dias capital para uma empresa: “os empreendedores têm de saber onde os investidores andam para ter conversas“. Para isso, os investidores aconselharam a ver previamente as agendas e o que se vai passar na cidade durante o evento. “Não é só parar no Web Summit”, diz Brito.
Quem vai ao Web Summit para fechar negócios vai enganado, explicaram também os investidores. A palavra “networking” (conhecer pessoas do ramo profissional) foi unânime entre o painel. Luís Vieira resume: “A Web Summit é um ponto de encontro”. Walter Palma, que já vai ao evento ainda este não tinha vindo para Portugal, diz aos empreendedores que é o local para se estar, mas que não se deve ir com expectativas de se “fazer negócio”.
O diretor da Caixa Capital ainda clarificou: “não quer dizer que os contactos feitos lá [no Web Summit] não cresçam para algo mais”. É essa possibilidade de fazer negócio que cativa dezenas de milhares de pessoas a participarem no evento.
Networking “é a chave”, mas não se deve ser demasiado insistente. Walter Palma contou que o que é pretendido é “começar diálogo com o investidor”. Basta isso e “já é um grande avanço”, adiantou o especialista em capital de risco. No entanto, já habituado a estes eventos, Palma deixou o aviso: “não assustem o investidor”. Ninguém quer uma pessoa insistentemente a vender uma ideia. Para isso “temos táticas para nos escondermos”, explicou o executivo.
Isto é algo que nenhum empreendedor quer ver, mas num evento em que até à porta da casa de banho fazem pitches (“vender ideias”), os investidores assumem que consegue ser bastante cansativo. Embora todo o painel concordasse, Luís Vieira deixou a ressalva: “também não devem ser tímidos e ficar paradinhos no stand“. Explicando que isso, por vezes, “é muito português”, o vice-presidente da Portugal Ventures avisou que é preciso mostrar o que leva o empreendedor ao evento e que muitos estrangeiros com mais experiência nestas iniciativas também vão lá estar a mostrar as startups que criaram.
O truque é conhecer pessoas, mas não só quem vai para investir nas empresas. Conhecer outras startups é importante, explicou Nancy Brito.
“É bom as startups falarem umas com as outras e puxarem-se”, diz a investidora. Isto é importante também para as apresentações. Uma das críticas unânimes ao evento no ano passado foi startups irem a palco sem terem pitches preparados. “Pratiquem antes”, diz Brito. Este aviso é também para investidores. Saber ao que se vai e o que perguntar é o suficiente para se distinguir um bom de um mau bom negócio.
As 150 startups portuguesas que vão ter um desconto de 50% na Web Summit
“Antes éramos empresários e tínhamos empresas. Agora somos empreendedores e temos startups”
Ainda há muito a ideia em Portugal de “penalizar quem falha e até de penalizar quem é bem sucedido”, diz Celso Martinho. “A culpa é da minha geração e é algo da nossa cultura, mas isso está a mudar”, continua o investidor. Elogiando a Web Summit por ser reflexo que o empreendedorismo está suceder em Portugal, os investidores mostraram a importância que o evento tem para o país e para a cultura.
“Nunca consegui explicar à minha família o que fazia, graças ao Web Summit já não preciso”, disse Nancy Brito mostrando que o conhecimento destes mercados e investimentos faz cada vez mais parte da sociedade portuguesa.
Apesar de assumirem que estamos num pico de entusiasmo quanto a estas áreas, os investidores portugueses mostraram que o evento trouxe o necessário capital estrangeiro para esta economia. “É um negócio de relacionamentos global, não é só do nosso quintal”, explicou Walter Palma.
“Ser empreendedor não é um mundo cor-de-rosa”, avisaram os investidores pelas palavras de Nancy Brito. “Na Web Summit pode parecer que tudo corre bem, mas não é o dia-a-dia das empresas”, adiantou a investidora. “O que interessa [para os investidores] é saber como se vai fazer dinheiro”, disse Luís Vieira. Apesar de se poder ter um ótimo produto, não se vai a lado nenhum se não se souber vendê-lo, concluiu o painel.