A cooperação científica com os países da bacia do Mediterrâneo pode ajudar a Portugal a mudar a sua agricultura e enfrentar a terra árida que as alterações climáticas anunciam, considera Ana Costa Freitas, representante portuguesa num projeto europeu de parcerias.

Ana Costa Freitas, reitora da Universidade de Évora e representante na organização da Parceria para a Investigação e Inovação na Região Mediterrânica (Prima), disse à Lusa que Portugal tem que acautelar a cultura de sequeiro, própria de grande parte do Alentejo, porque “ninguém diz que o Alqueva vai durar para sempre”.

Os países do norte de África e do Médio Oriente têm uma experiência vasta com secas como a que Portugal atravessa e “estão habituados a conquistar terreno ao deserto”, um cenário que os cientistas que se dedicam ao estudo do clima afirmam que poderá afetar mais partes da Península Ibérica nas próximas décadas.

Acrescentou que é preciso dar à sociedade portuguesa a noção da ciência que está por trás da agricultura, que hoje tem “muita inovação e gestão” que é necessária para o mais básico, como levar às prateleiras dos supermercados saladas já preparadas, lavadas e embaladas. A par disso e de práticas como a agricultura de precisão, importa não abandonar a “agronomia pura” e as espécies autóctones.

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O ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, afirmou na apresentação do Prima que a “diplomacia científica” em torno do Mediterrâneo pode juntar “contextos sociais, políticos e religiosos” diferentes, algo que “os políticos sozinhos não conseguem”.

No levantamento de problemas que são comuns, os responsáveis do Prima encontraram práticas insustentáveis, sobre-exploração, demasiada especialização e pouco valor nutricional dos produtos cultivados.

Para concorrer a um programa que distribuirá globalmente 440 milhões de euros de fundos europeus, terão que ser formados consórcios de três países, incluindo sempre um europeu e um do Mediterrâneo sul.

Portugal comprometeu-se com uma contribuição de 750 mil euros anuais durante os dez anos de vigência da Parceria em projetos de irrigação, gestão de água, prevenção de doenças e adaptação da agricultura às alterações climáticas, entre outras. Em cada ano prevê-se que sejam apoiados entre cinco e nove projetos. Na parceria participam 19 países.