A complexidade crescente do mundo atual, consequência da evolução tecnológica, científica e social, faz com que não compreendamos o como e o porquê de muitas realidades banais do quotidiano.

É certo, que não podemos conhecer tudo sobre tudo ou, mesmo, o suficiente sobre matérias que, sem o suspeitarmos, poderão assumir uma importância vital – como é o caso, por exemplo, das questões do equilíbrio ecológico. E também é verdade, que podemos utilizar um relógio, durante toda a vida, sem nada sabermos a respeito do seu mecanismo.

Todavia, não restam dúvidas de que uma das finalidades da Educação é a de nos permitir gerir melhor esta incompreensão e dotar-nos de utensílios e competências, que nos permitam viver melhor no nosso mundo.

Assim, o conceito de Educação deve ser entendido, nos dias de hoje, como uma forma de “libertar” as pessoas de preconceitos e modos tradicionais de pensar e de levá-las a questionar o mundo e as coisas.

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Há mesmo quem defenda, que pessoas educadas são as que aprendem a pensar por si próprias, adquirindo uma personalidade devidamente estruturada, não obedecendo cegamente a tudo e a todos. Daí, que a Educação seja um fator de transformação social, de consolidação da Democracia, de Justiça e de Liberdade.

O sociólogo Seymour Lipset demonstrava, em 1959, num artigo que fez história, a existência de um altíssimo grau de correlação empírica entre Educação e o desenvolvimento de um povo. O Sul da Europa ilustra claramente a relação estreita entre os níveis educacionais e o seu desenvolvimento.

Francis Fukuyama, no seu livro “A História do Homem e o Fim do Mundo”, afirma que “as diferenças de classes, que subsistem atualmente nos Estados Unidos, são devidas sobretudo aos diferentes níveis de Educação. A desigualdade insinua-se no sistema em resultado do acesso desigual à educação; a falta de educação é a sentença mais certa para uma cidadania de segunda classe”.

Um cidadão educado não é só o que foi “treinado” para assumir comportamentos socialmente “corretos”, mas o que é capaz de ser criativo e que se pretende mais consonante com as especificidades de um universo social em mutação cada vez mais rápida. A Educação, tal como está concebida, na maioria dos casos, pretende como fim último “educar para a domesticação” perpetuando o “status quo”.

A Escola, como hoje a concebemos, continua a não dar resposta a estas questões. Continua a negar o princípio de que “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens educam-se entre si mediatizados pelo mundo”, e a relegar para segundo plano o princípio insofismável de que a Educação é um fator determinante de progresso e de bem-estar social.

Continuarmos a encarar os alunos como matérias-primas e produtos, ao remetê-los ao papel de “objetos” de educação, estamos a ignorar características próprias da função da Escola perpetuando processos de fabrico geradores de desperdícios, que terão como corolário o insucesso. O que a Escola continua, em muitos casos, a ensinar, hoje, pouco tem a ver com a realidade deste mundo de “guerras em direto” sem nos preocuparmos em saber o motivo que leva um número cada vez maior de jovens que optam por integrar as fileiras das “jihades”, numa guerra cobarde e sem fim à vista.

Os curriculas estabelecidos e que pretendem definir o que o aluno deve e precisa saber continuam a preparar gerações para o mercado do emprego e não para o do trabalho.

Cabe-nos a nós, professores, agentes privilegiados, fazer com que Educação e Escolaridade se tornem conceitos sinónimos. E não esperar eternamente pela “melhor reforma do sistema educativo”.

A Escola não precisa de reformas, a Escola precisa é que lhe dêem o “sentido da vida”, para que possamos, através das nossas ações, do nosso comportamento, da nossa atitude perante a vida, perante os outros e perante o mundo, assumir uma postura de “Auto libertação” pelo Saber.

Conscientes de que a Educação não é um ato neutro, devemos manter a esperança de que a mudança é possível e apostar na Educação como meio de transformação das sociedades.

Diretora Executiva do Instituto para o Desenvolvimento Social – IDS