O Instituto Monsenhor Airosa, em Braga, exporta, para “várias partes do mundo”, hóstias sem glúten, graças a uma “rara” autorização concedida pelo Vaticano, que lhe permite o fabrico daquele tipo de produto, próprio para celíacos. Na verdade, as hóstias não são vendidas, mas sim “oferecidas”, porque o processo de fabrico é “caro”, sendo “impossível pôr um preço” naquelas hóstias, explicou à Lusa o presidente do Instituto Monsenhor Airosa,
Luís Gonzaga Dinis. Este tipo de hóstias destina-se a pessoas que têm celíaca, uma doença que se caracteriza por uma intolerância ao glúten, provocando inflamações no intestino delgado. O glúten é um nutriente presente em grande parte das farinhas, nomeadamente na farinha com a qual, segundo o Direito Canónico, devem ser feitas as hóstias, o que impede os doentes celíacos de comungar, através do “corpo de Cristo”.
“É preciso uma autorização especial, que é rara. Daí que sejamos fornecedores para todo o país, para a Europa, África e, sobretudo, América Latina. Praticamente todos os dias saem daqui hóstias sem glúten”, explicou Luís Dinis. A hóstia que, segundo as regras canónicas, tem de ser feita através da mistura de água e farinha, “cozida sem azeite e sem nenhum outro componente”, representa, na celebração da eucaristia cristã, o “corpo de Cristo”, sendo dada ao crente, no momento da celebração da Comunhão. Como é feita com farinha, e a farinha tem glúten, a hóstia “normal” é prejudicial para quem sofre de doença celíaca.
Aos portadores desta doença é permitido comungar através do vinho, embora no caso das crianças tal seja mais “complicado”, daí a crescente procura de hóstias “livres” de glúten. “Para as hóstias sem glúten, a farinha é específica, tem menos de 10 partes por milhão. Considera-se que isto já não afeta os celíacos. É o que vulgarmente se chama a farinha sem glúten”, explicou o responsável.
Ao contrário das hóstias normais, vendidas para financiar o funcionamento do Instituto Monsenhor Airosa, e que assumem uma “importante parte” dos recursos da instituição, as hóstias sem glúten são oferecidas, apesar de o seu fabrico ficar “muito mais” caro. “Há uma máquina que é limpa, separada do restante processo. Desde a manufatura da massa, toda a aparelhagem necessária para efetuar aquele serviço é limpa, com álcool, de uma forma que seja muito segura, para que não fiquem os mais pequenos resíduos da farinha normal”, explicou. Além disso, salientou, “a dita farinha sem glúten é muito mais cara”.
Por isso, explicou, “o preço nem sequer é determinado”, porque, explicou o responsável, “é muito difícil reconstituir os custos, na medida em que temos de parar a linha de produção” para o fabrico das hóstias sem glúten. “Nem sequer vendemos. Oferecemos. Entendemos que é um serviço que devemos prestar à comunidade”, concluiu o presidente do Instituto. O Monsenhor Airosa fabrica “cerca” de 150 mil partículas por dia, que depois darão origem às hóstias, uma vez benzidas, e emprega oito funcionárias no processo de fabrico.