Uma professora que depois das aulas trabalha num `call center` e um aluno do Ensino Superior que teve de interromper os estudos para ir trabalhar são reflexos da crise em Portugal que a FNE identificou para um projeto europeu.

Estes e outros casos vão ser incluídos num documentário e apresentados num seminário internacional, no âmbito do XI Congresso da Federação Nacional da Educação (FNE), em Matosinhos, que decorre durante o fim de semana.

No seminário, em que estarão representantes de vários sindicatos de outros países, será feito pela FNE um diagnóstico dos efeitos da crise na Educação, a partir de casos concretos, enquadrados num relatório sobre a situação do país, em que se referem os cortes orçamentais de milhões de euros e o fecho de centenas de escolas primários.

O projeto inclui os cinco países da Europa mais afetados pela crise: Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda e Itália, disse à agência o responsável da FNE pelo trabalho que diz respeito à realidade portuguesa, Joaquim Santos.

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O resultado será a produção de um documentário sobre os efeitos da crise nestes países. “Visa também ver qual foi o papel dos sindicatos para tentar sair da crise e promover uma educação de qualidade”, afirmou o responsável.

Foram selecionados cerca de 20 casos reais e filmados 13: “Vimos que o país foi muito afetado em todos os níveis, desde os alunos, às faculdades, às escolas, às câmaras, aos próprios professores, pelas medidas de austeridades destes últimos anos”.

No relatório já enviado a Bruxelas são relembrados os cortes no Orçamento do Estado ao nível da educação e dos abonos de família. “Entre 2009 e 2012, meio milhão de crianças e jovens deixou de ter direito a receber os abonos”, lê-se no documento.

No texto é igualmente referido que em abril de 2013, a UNICEF alertou que 25 por cento das crianças portuguesas vivia com algum tipo de privação.

Entre os projetos filmados para o documentário, estão professores voluntários que distribuem roupa e comida a pessoas que vivem na rua, iniciativas camarárias para responder às carências da população.

Em Matosinhos, foi feito o retrato de uma família em que só a mãe é que trabalha e com um baixo rendimento. Foram igualmente entrevistados dois estudantes do Ensino Superior de famílias “muitíssimo carenciadas”, havendo situações em que têm de pagar 600 euros de renda.

A par das dificuldades das famílias para manter os filhos no Ensino Superior, com histórias de emigração à mistura, é também retratado o caso de um aluno que interrompeu os estudos durante um ano e meio para juntar dinheiro para poder continuar o curso no Instituto Superior de Engenharia do Porto.

“Filmámos um caso de uma professora de matemática contratada, que não tem horário na escola pública, tem algumas horas durante a parte a manhã numa escola profissional e da parte da tarde trabalha num `call center`”, contou Joaquim Santos.

O caso de uma família com seis filhos em que apenas o pai trabalha é outro dos exemplos que o projeto desenvolvido pela FNE contempla.

O documentário inclui também as ações dos sindicatos para inverterem o agravamento das condições de trabalho e de vida impostas aos cidadãos pelas decisões da `troika`, que os governos acolheram em troca de empréstimos financeiros com elevados juros.