Lisboa está no caminho certo, mas falta-lhe um caso de sucesso global, afirmou Peter Cohan, professor na Babson College, nos Estados Unidos da América (EUA), ao Observador. O especialista internacional em empreendedorismo, que já investiu em seis empresas, esteve em Portugal a propósito do Lisbon Challenge Spring’14, um programa internacional de aceleração de startups tecnológicas em fase de crescimento, organizado pela Beta-i, associação sem fins lucrativos para promoção do empreendedorismo.

Durante três meses, as 30 equipas seleccionadas, podem apresentar os seus projectos a investidores nacionais e internacionais, mas apenas cinco receberão investimento. Das 30 seleccionadas, 18 são portuguesas e as restantes chegaram de Itália, Roménia, Brasil, Ucrânia, Gana, Reino Unido, Malta, Sérvia, EUA e França.

O que falta a Lisboa para se tornar numa verdadeira startup city?
Um caso individual de sucesso. Lisboa precisa de ter uma startup que seja adquirida por uma grande quantia de dinheiro ou que peça admissão à cotação em bolsa. Isto é o tipo de acontecimento que pode ser catalizador. Se as pessoas souberem que existem empresas a começar a sua atividade em Lisboa e a serem vendidas por mil milhões de dólares, por exemplo, começam a prestar atenção. As capitais de risco andam sempre à procura de novas oportunidades de investimento a baixo custo, para que depois possam vendê-las a um preço mais elevado. Parece-me que Lisboa vai na direção certa, mas isso não significa que já esteja lá.

O que deve ser feito para promover mais o ecossistema lisboeta?
Eu acho que a Graça Fonseca, da Câmara Municipal de Lisboa, tem a atitude mental correcta, de que é possível atingir qualquer coisa. Devem pegar neste tipo de valores e dizer às pessoas que lançar uma startup é uma coisa boa. O que é que os pais querem que os filhos façam quando se licenciam? Querem que encontrem um emprego numa empresa grande ou estão dispostos a apoiá-los se eles quiserem criar uma startup? O poder que os pais têm em influenciar o que os filhos querem fazer tem um impacto tremendo.

É o fim da troika em Portugal. A crise afasta os investidores?
As pessoas estão a começar a deixar de ter medo para começarem a ficar curiosas. Se os investidores virem que uma startup nascida em Lisboa está a ter sucesso, começam a ter interesse em Portugal. Eu penso que um caso destes é mais importante para atrair investimento do que a actual crise. Se quiserem investir numa empresa portuguesa, podem criar uma entidade legal através da qual podem investir, negociando melhores condições e criando valor. Não se focam a um nível macro. Focam-se em casos individuais de empresas que conseguiram ou não ter sucesso. É preciso mudar a mentalidade das pessoas que têm poder em Portugal e ajudar as empresas com potencial de sucesso. Com um caso destes, é mais fácil explicar o produto e o retorno.

E a quem quer começar um negócio, o que tem a dizer?
Primeiro, deve perguntar a si próprio se tem as competências necessárias para ser um empreendedor de verdade, se é capaz de ultrapassar obstáculos e olhar para as coisas que estão a acontecer no mundo e pensar como fazê-las de forma diferente. A segunda questão é se deve empreender em Lisboa ou noutra cidade qualquer. Para ser empreendedor, é melhor sê-lo num ambiente onde o falhanço não é considerado crime. Em Santiago do Chile, falhar nos negócios é quase como cometer um crime, por exemplo. É preciso estar num ambiente onde o falhanço não seja estigmatizado.

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