“Tinha medo de filmar na Capadócia, porque podia ser demasiado bonito, demasiado interessante”, afirmou Nuri Bilge Ceylan, o realizador de “Winter Sleep”, na entrega do prémio. Mas era um medo injustificado. O retrato intimista de um hoteleiro auto-centrado, que vive na Anatólia, e as diferentes relações à sua volta, ganhou a Palma de Ouro na 67ª edição do festival de Cannes.
Este não o primeiro prémio que o realizador recebe no festival. Em 2008, recebeu o prémio de melhor realizador por “Os três macacos”. E por duas vezes já tinha ganho o Grand Prix: em 2002 por “Uzak- longínquo” e em 2011 por “Era uma vez na Anatólia”.
“É uma grande surpresa para mim”, afirmou em palco. Ceylan fez questão de lembrar que este ano marca-se o centenário do cinema turco. “Eu quero dedicar este prémio a todos os jovens turcos, incluindo aqueles que perderam as suas vidas” nos conflitos sociais que ocorreram no último ano, afirmou.
“Le Meraviglie”, de Alice Rohrwacher, ganhou o Grande Prémio e Bennett Miller foi distinguido como melhor realizador. Timothy Spall, por Mr. Turner, de Mike Leigh ganhou o prémio de melhor actor e Julianne Moore, por Map to the Stars, de David Cronenberg o de melhor atriz.
Já o prémio do júri foi atribuído a dois filmes heterodoxos: “Mommy” do jovem Xavier Dolan e “Adieu au Langage” de Jean Luc-Godard.
“Winter Sleep” vai ser distribuído em Portugal pela Leopardo Filmes, mas ainda não foi anunciada data de estreia. A primeira vez que um realizador turco ganhou a Palma de Ouro foi Yilmaz Guney e Serif Goren’s com filme “Yol – Licença Precária” em 1982.
O Festival de Cinema de Cannes abriu no dia 14, em França, com “Grace de Mónaco”, de Olivier Dahan, sobre Grace Kelly, filme rejeitado pela família real monegasca. A família da princesa Grace não esteve presente no festival, nem tão pouco apoia a exibição do filme, argumentando que a história real foi adulterada para fins “puramente comerciais”.
Fora de competição, Cannes estreou a longa-metragem “Pontes de Sarajevo”, composto por curtas-metragens de 13 realizadores europeus, entre os quais Teresa Villaverde, com o filme “Sara e sua mãe”. Para a Semana da Crítica foi selecionada a curta-metragem “Boa noite Cinderela”, com a qual o realizador Carlos Conceição recupera o conto popular da Gata Borralheira, embora numa “versão mais carnal”.