O fundador do Banco Comercial Português (BCP), Jorge Jardim Gonçalves, reafirmou esta quarta-feira a sua inocência, que espera ver reconhecida publicamente, face às acusações de que é alvo nos tribunais devido à alegada prática de irregularidades no banco.

“Há um caminho judicial que tenho percorrido em várias frentes. O ambiente criado em 2007 ainda não foi esclarecido”, disse o antigo banqueiro, durante a apresentação da sua biografia “O poder do silêncio”, da autoria de Luís Osório, que decorreu em Lisboa.

Dizendo que todas as acusações que recaem sobre si e outros ex-gestores do BCP não correspondem à verdade, Jardim Gonçalves salientou que ainda não foi alvo de nenhuma condenação definitiva, já que os processos (crime e contraordenacionais) estão “em vias de recurso”.

Apontando para as acusações acerca da manipulação de mercado, da criação indevida de sociedade ‘offshore’, de manobras para valorizar as ações do BCP, entre outras, para daí retirar benefícios pessoais, o responsável assegurou perante uma vasta plateia que “tudo isso está errado”.

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E salientou: “Passados estes anos ainda não apareceu ninguém que dissesse que a boa gente que criou o BCP, afinal era mesmo gente boa”.

Entre várias personalidades que marcaram presença no lançamento do livro destacou-se o antigo Presidente da República António Ramalho Eanes, que escreveu o prefácio da obra.

À margem da cerimónia, o antigo Chefe do Estado acedeu a falar aos jornalistas sobre a sua perceção das questões judiciais que envolvem Jardim Gonçalves.

“Eu julgo que uma leitura atenta da obra permite ficar mais informado sobre o que foi a situação e permite, não emitir sobre ela uma opinião, mas formular sobre ela um juízo responsável, que é claramente favorável”, afirmou Ramalho Eanes.

Questionado sobre se considera que Jardim Gonçalves está a ser alvo de injustiça, o general foi comedido nas palavras.

“Há dois aspetos: o aspeto judicial, sobre o qual eu não me pronuncio, e há o aspeto mediático. Nós sabemos que a comunicação social muitas vezes vai atrás daquilo que é mais atraente para as pessoas”, sublinhou.

E sugeriu aos jornalistas que lessem o último acórdão, numa muito provável referência à decisão do coletivo de juízes das Varas Criminais de Lisboa que julgou o processo-crime interposto pelo Ministério Público.

“De todas as acusações, há apenas uma que é tomada em consideração. E essa, lendo o livro, percebe-se que talvez o recurso venha a decidir de maneira diferente”, lançou.

Sobre Jardim Gonçalves, o antigo político teceu várias considerações, sempre em tom elogioso. “Eu entendo que [Jardim Gonçalves] é um homem de convicções. Podemos concordar com algumas e discordar de outras, mas temos que respeitar a sua coerência”, frisou.

Segundo o general, Jardim Gonçalves “é um homem que na vida teve vários desaires. Várias vezes foi obrigado a recomeçar e recomeçou sempre com a mesma determinação, com a mesma vontade e o mesmo empenho”.

E concluiu: “É um homem que tem inquestionáveis qualidades de liderança. É um homem que sabe estabelecer objetivos, definir estratégias e modelos, depois, métodos, e, depois, segui-los com uma grande intransigência”.