Dos seis triliões de cigarros fumados em 2012 em todo o mundo, uma parte significativa (em proporção) foi fumada em Timor-Leste. O país é o sexto do planeta onde mais se fuma e aquele onde mais homens não dispensam um cigarro – 61% da população masculina. Em termos absolutos são 200 mil fumadores numa população de 1,2 milhões (33%).

Em Timor, um maço de tabaco custa à volta de 75 cêntimos, um fator que Jorge Luna, responsável local da Organização Mundial de Saúde, acredita estar na base do crescimento do número de fumadores no país. “Os jovens estão a fumar cada vez mais, especialmente os rapazes”, diz o especialista, que salienta a importância do tabaco cultivado localmente, que é frequentemente mais barato do que o de marca, importado da Indonésia.

Segundo a BBC, que realizou um programa televisivo sobre o problema do tabaco em Timor, parte da gravidade da situação deriva do facto de as escolas não abordarem os malefícios do tabaco nas aulas e nem sequer terem regras claras quanto ao fumo no espaço escolar. “Eu já vi professores a fumar nas aulas enquanto estão a escrever no quadro”, refere Luc Sabot, da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais de Timor-Leste.

Para o primeiro-ministro Xanana Gusmão, também ele um fumador, “proibir isto, proibir aquilo não será eficaz”, diz, referindo-se ao facto de em Timor ser permitido fumar em qualquer espaço público. “É preciso educação e vai levar tempo, mas eu acredito que quanto mais as pessoas estiverem conscientes das doenças que [o tabaco] provoca, mais serão capazes de abandonar [o vício] sozinhas”, comenta Xanana, que à BBC disse que os cigarros o ajudaram durante a guerrilha contra as tropas indonésias.

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A mulher de Gusmão, Kirsty, é, por seu turno, forte opositora do tabaco, uma vez que ela própria já teve cancro (da mama) e acusa as companhias tabaqueiras de jogarem com o “fator estilo” (‘cool factor’, em inglês) para chegarem a um público muito jovem, por vezes com 10 ou 11 anos, denuncia.

O lobby do tabaco é muito poderoso em Timor, onde a publicidade a cigarros não foi ainda proibida ou regulamentada como em muitos países do mundo. As tabaqueiras “conseguem passar a ideia de que fumar é um prazer, algo que dá sentido à vida. Estamos a lutar contra uma máquina de propaganda. E isso é uma batalha dura”, resume um médico canadiano que trabalha em Dili.