O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, é, a partir de hoje, o político português com maior longevidade no poder desde 1910, com 36 anos e 85 dias de governação, mais um dia que Oliveira Salazar.

Jardim completa hoje 13.310 dias de poder desde que assumiu a presidência do Governo Regional, a 17 de março de 1978. Torna-se, assim, o político português há mais tempo em funções desde a instauração do regime republicano em Portugal.

Então, ao despedir-se dos leitores do Jornal da Madeira, de que foi diretor, escrevia na “Tribuna Livre” não ver na naquele dia de tomada de posse “qualquer sentido de triunfo pessoal”, recordando o que já havia escrito na sua primeira crónica, a 29 de outubro de 1974, segundo a qual “só se merece a vida quando ela é empenho permanente naquilo em que se acredita”.

Esta longevidade assenta na sua nomeação como presidente do Governo Regional, sempre na sequência dos resultados de eleições para a Assembleia Legislativa, com Alberto João Jardim a vencer, desde 1976, dez eleições regionais consecutivas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo o governante madeirense a data de hoje não lhe diz “nada de especial”, embora reconheça que tem de “agradecer à população” a confiança que nele depositou.

“Enquanto o dr. Salazar estava numa posição ditatorial, eu estive sempre eleito pelo povo. Estou mais legitimado que o dr. Salazar”, disse Alberto João Jardim à agência Lusa.

Fundador do Estado Novo, António de Oliveira Salazar presidiu ao Governo de Portugal durante 36 anos e 84 dias, entre 05 de julho de 1932 e 27 de setembro de 1968.

Questionado como vê a forma como o país olha para a sua atividade política, Jardim responde ao seu jeito: “Portugal, dê atenção, ou não dê atenção, eu tenho é de resolver os problemas da Madeira”.

Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim nasceu no Funchal em 1943, é licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo sido professor nos ensinos técnico e secundário.

Foi diretor do Centro de Formação Profissional da Madeira, assim ingressando na Função Pública a cujos Quadros pertence.

Foi também jornalista profissional, tendo sido diretor do diário Jornal da Madeira.

Cofundador na Madeira do PSD, é presidente da sua Comissão Política Regional e vem sendo, desde 1976, eleito deputado à Assembleia da República e à Assembleia Legislativa da Madeira, onde esteve um ano e meio como líder da bancada social-democrata.

É membro do Conselho de Estado, do Conselho Superior de Defesa Nacional e do Conselho Superior de Segurança Interna, bem como do Comité das Regiões da União Europeia, do qual foi já Vice-Presidente (2000 e 2001).

Alberto João Jardim é, para muitos madeirenses, o “arquiteto” da região autónoma do pós-25 de abril de 1974, principalmente ao nível das grandes obras e infraestruturas.

Foi durante os seus mandatos que a região abriu túneis, ergueu viadutos e pontes, concretizou vias rápidas que hoje tornam mais fáceis, seguras e céleres as ligações rodoviárias entre o sul e o norte ou o leste e o oeste da ilha.

A construção de centros de saúde, escolas e outras infraestruturas coletivas em cada um dos 11 concelhos do arquipélago, a expansão do aeroporto, ou o aumento do Produto Interno Bruto ‘per capita’ na Madeira, são outros pontos que merecem os aplausos no arquipélago.

A par dos elogios, surgem também as críticas, com muitos a acusarem Alberto João Jardim de ter empreendido um desenvolvimento económico assente na “política do betão” e de favorecimento ao ‘lobby’ da construção, descurando os restantes setores produtivos.

O governante madeirense, que continua a reivindicar mais competências legislativas para a Região, defendendo a autonomia fiscal e uma solução federalista para a Madeira, é também responsabilizado por a ter colocado debaixo de um plano de austeridade ditado por um Programa de Ajustamento Económico e Financeiro devido a uma dívida regional de 6,3 mil milhões de euros, da qual diz não se arrepender e que foi feita “na altura certa, porque hoje não há dinheiro”.

A governação de Alberto João Jardim, por outro lado, foi marcada ao longo dos anos por alguns momentos de crispação no relacionamento com Lisboa no âmbito daquilo que o próprio designa por “contencioso das autonomias”.

A esse nível, e por causa de questões financeiras, nunca se retraiu nas adjetivações a alguns responsáveis governamentais nacionais, como quando qualificou António Guterres de “mula da cooperativa”, considerou José Sócrates o “pior primeiro-ministro que Portugal já conheceu” e apelidou de “senhor Silva” o atual Presidente da República.