“A ansiedade faz com que os músculos fiquem mais rígidos”

O coração começa a bater a um ritmo acelerado e a respiração é pesada como se tivesse acabado uma corrida. O corpo treme, a barriga dói e as primeiras gotas de suor começam a escorrer pela testa. São alguns dos sinais de alerta num estado de ansiedade. Um problema que afeta muitos atletas de alta competição.

Se falar para um auditório cheio de pessoas pode deixar a boca seca, imagine-se num estádio de futebol a jogar perante o olhar atento de mais de 50 mil adeptos. A exposição pública e a avaliação social podem fazer qualquer pessoa bloquear. Literalmente. “A ansiedade faz com que os músculos fiquem mais rígidos”, explicou ao Observador Pedro Almeida. O professor de psicologia do desporto no Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA) acrescentou que essa contração muscular conduz à fadiga, à descoordenação motora e, no limite, pode causar lesões.

“Em caso de ansiedade, as perturbações da performance são diretas, por causa da perturbação da concentração e da falta de coordenação motora”, continuou o psicólogo do desporto. “A leitura do jogo também é afetada.” Um jogador que esteja desconcentrado não lê todas as situações de jogo, não percebe a colocação dos colegas e não antecipa as movimentações dos outros jogadores.

“Um scanning limitado das imagens de jogo pode fazer perder a bola mais vezes”, disse Pedro Almeida, referindo-se não só ao futebol, mas também ao basquetebol ou ao andebol. Situação que pode levar a um contágio emocional negativo tanto do atleta como da equipa, se não for devidamente controlado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Trabalhar o atleta ao longo do tempo, de uma forma preventiva, desde muito novos”, é uma das funções do psicólogo do desporto. “Desta forma o atleta poderá construir as suas próprias estratégicas para lidar com os momentos de ansiedade.”

Pedro Almeida propôs algumas estratégias para lidar com situações de stress ou ansiedade – estratégias de coping:

  • focar naquilo que se pode controlar ou influenciar, naquilo que depende da pessoa
  • ser capaz de antecipar o problema e a solução, estar preparado para todas as eventualidades
  • ter pensamentos que possam ser tranquilizantes, transportando para uma zona de segurança e conforto
  • controlar a respiração – usar a respiração abdominal para relaxar ou a respiração pelo diafragma para ficar mais estimulado

Mas lidar com a ansiedade não significa necessariamente eliminá-la. “Embora seja uma emoção negativa não tem se ser prejudicial”, disse o psicólogo, o importante é que o atleta consiga balancear as emoções que lhe são mais favoráveis. Pedro Almeida deu exemplos: “Estar irritado ou pressionado pelo tempo pode ser um fator facilitador, enquanto que estar demasiado confiante pode ser um fator debilitante.”

excesso de euforia é negativo

GOOOOOLLLLLOO! A euforia gritada pelo relatador de futebol na rádio ou pela criança que imita o pai que acaba de saltar do sofá. No campo os jogadores correm, abraçam-se ou atiram-se para o chão. A euforia é uma emoção positiva mas em excesso pode ter efeitos negativos.

Ao contrário da ansiedade que deixa os músculos tensos, na euforia há um relaxamento muscular associado a grandes níveis de confiança. “O excesso de confiança pode ser catastrófico se fizer baixar os níveis de controlo numa determinada tarefa”, disse ao Pedro Almeida. “[O aumento dos níveis de confiança pode] dispersar a atenção da tarefa principal”, alerta o professor de psicologia do desporto.

Tal como no caso da ansiedade, o psicólogo do desporto reforçou que o importante é que o atleta se mantenha focado, principalmente naquilo que dependa dele. “Mesmo que celebrem, os atletas têm de ter mecanismos individuais ou coletivos que os tragam de volta à tarefa”, acrescentou.

Habituado a trabalhar com atletas de alta competição de várias modalidades desportivas, Pedro Almeida conhece situações em que os atletas conseguiram muito boas classificações numa primeira etapa da prova e que, por relaxarem demasiado, acabaram por mostrar piores resultados na etapa seguinte. O atleta tem de aprender a gerir o seu ritmo, quando pode festejar e quando se deve concentrar na tarefa, disse o psicólogo.

Embora a euforia possa ter um efeito imediato se desviar o foco do atleta ou se o motivar, para Pedro Almeida não tem um efeito a longo prazo. “Os atletas celebram ou afogam as mágoas. Depois viram a página”, disse. “Estão habituados a lidar com as emoções.” Para o psicólogo, manter o estado de euforia enquanto se pensa nos próximos jogos “é coisa dos adeptos”.