O título, parece que já ninguém lhe tira. Falecido a 25 de junho de 2009, em Los Angeles, com 50 anos, Michael Jackson ficará para sempre gravado na história como o “Rei da Pop”, para milhares de fãs e críticos. E nem é preciso recuar no tempo. Nos 1.825 dias que passaram desde a sua morte, foi lançado um filme, novo material discográfico e as notícias aparecem todos os meses. Graças à internet, dificilmente a história da música voltará a ter uma estrela tão icónica.
Antes de morrer, Michael Jackson debatia-se com problemas financeiros. Cinco anos após a sua morte, a agência AFP dá conta de que a empresa Michael Jackson Estate, através da qual a mãe e os três filhos de Jackson gerem os bens do cantor, alcançou mais de 500 milhões de euros de receitas, de acordo com um novo livro sobre o império do artista, publicado recentemente por Zach Greenburg.
Nos primeiros tempos, a empresa lançou o filme “This is it”, que reunia as imagens dos últimos ensaios dos espetáculos que Jackson ia dar na O2 Arena, em Londres, marcada para melhorar a situação financeira do cantor. Entre 2011 e 2012, o Cirque du Soleil deu a volta ao mundo com “The Immortal World Tour”, uma digressão de homenagem ao cantor, idealizada em parceria com a empresa da família Jackson. No mês passado, Michael Jackson voltou aos palcos em versão holograma, durante a entrega dos prémios de música Billboard, em Las Vegas.
E os discos continuam a chegar às lojas. Em 2010, a Sony assinou um contrato milionário com os advogados da família para o lançamento de sete álbuns em dez anos. Dois já foram editados e o último, Xscape, foi lançado em maio deste ano. Michael Jackson terá deixado várias canções gravadas que irão ver a luz do dia, para alegria dos fãs e também de algumas contas bancárias.
Mas nem só as notícias sobre arte têm alimentado a imprensa, que todos os meses encontra assunto para recordar o nome de Michael Jackson. Até porque o ícone da pop não teve uma vida propriamente discreta. O julgamento sobre a sua morte e a culpabilização do médico que lhe administrou o analgésico final foi seguida de perto pelos media. Continuam a sair livros sobre a sua vida pessoal – este mês, dois guarda-costas publicaram Remember The Time, onde falam sobre possíveis casos amorosos e demais detalhes pessoais que contribuam para as vendas.
Para a revista The Atlantic, Michael Jackson foi mesmo o artista mais relevante de todo o século XX. O vídeo da música “Thriller“, filmado como uma curta-metragem em 1983, mudou a forma de fazer videoclips. Os seus passos de dança, a forma de cantar, todo o espetáculo montado nos concertos conferiu uma dimensão diferente de entretenimento associada ao concerto. Artistas como Justin Timberlake e Madonna são exemplo (assumido) dessa influência. Justin Timberlake foi um dos convidados para o álbum póstumo Xscape, onde faz um “dueto” com o falecido cantor, na música “Love Never Felt So Good”. Até foi feito um videoclip onde se podem ver imagens de Michael Jackson e Timberlake.
“É muito pouco provável que volte a existir um ícone da dimensão de Michael Jackson no contexto actual”, explica Nuno Galopim ao Observador. Para o jornalista e crítico de música, o “Rei da Pop”nasce num tempo em que as formas de divulgação dos fenómenos artísticos eram muito diferentes, sobretudo a música e o cinema. “Vivíamos claramente num tempo da lógica do blockbuster, porque a divulgação era feita por poucos media de grande audiência. A internet veio fragmentar isto tudo”.
Se até ao final do século XX os fãs viviam colados ao rádio ou à MTV à espera do próximo sucesso musical, hoje a pulverização dos gostos é quem mais ordena. “Existe uma relação mais próxima do ouvinte com os vários artistas e géneros musicais”, diz Nuno Galopim, que dá o exemplo de Lady Gaga como o fenómeno de popularidade pop mais próximo do estrelato. No entanto, admite que, apesar de todo o aparato cénico dos concertos e da visiblidade mediática, “em nada se pode comparar a artistas como Michael Jackson, Prince, Madonna e Bruce Springsteen”.
A internet mudou tanto a forma como se consome música que poderá não voltar a haver ícones tão globais como Michael Jackson, mesmo que o superem em talento. Vive-se na era dos microfenómenos. “As pessoas hoje vão à procura do seu gosto e não da mera adesão ao que está a ser falado. Os vários nichos têm agora uma expressão tremenda”.
E não se trata de uma armadilha temporal, em que não existe distanciamento suficiente para fazer uma correta avaliação. Nuno Galopim dá o exemplo de Justin Timberlake. “A carreira dele não começou ontem, já tem anos suficientes para o compararmos com o Jackson da altura de ‘Thriller’. Já o seu legado, enquanto uma das figuras mais marcantes da história da cultura popular, vai perdurar. Inúmeros artistas apareceram graças ao caminho aberto por Jackson, com Madonna à cabeça. ”
Michael Joseph Jackson nasceu a 29 de Agosto de 1958. Pode ter morrido em 2009, mas o seu legado, enquanto uma das figuras mais marcantes da história da cultura popular, continua bem vivo.