“O que mais vou eu fazer? Adoro representar”, Eli Wallach, The Times, 1997

O ator norte-americano Eli Wallach (7 de dezembro de 1915) morreu na terça-feira, aos 98 anos, confirmou a sua filha Katherine ao jornal The New York Times. Nascido em Nova Iorque, Wallach manteve-se no ativo até aos 90 anos e entrou em filmes emblemáticos da história de Hollywood. São exemplo as películas assinadas por figuras como Francis Ford Coppola, Sergio Leone e John Ford. A fama mundial chegou com a participação em O Bom, o Mau e o Vilão e com Os Sete Magníficos.

Ator “multifacetado” e um nome proeminente da sua geração. Um homem “versátil”. O New York Times não poupa elogios à pessoa que, durante mais de 60 anos, subiu ao palco e fez-se ver ora na televisão ora nos ecrãs de cinema — uma meta que não é para todos. Independentemente dos papéis desempenhados, Wallach mostrou sempre facilidade e controlo quando a encarnar personagens de distintos estilos de vida. O Guardian iguala na adjetivação: “por direito, a chegada de Wallach [ao sucesso, entendemos] deveria ter vindo mais cedo”. A publicação refere ainda que o ator ajudou a trazer o “método” da representação para o universo dos filmes.

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Filho de imigrantes polacos, Eli Wallach era uma das poucas crianças judias no bairro italiano-americano onde cresceu, em Brooklyn. Talvez por influência alheia, as estreias no palco e no ecrã foram feitas enquanto personagens italianas. Em 1951, seis anos após o primeiro trabalho na Broadway, participou na peça The Rose Tattoo e vestiu a pele de Alvaro Mangiacavallo (trabalho pelo qual ganha um Tony Award). No seu primeiro filme, Baby Doll, de 1956, transformou-se no siciliano Silva Vacarro.

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Wallach com a mulher, em 2007 – Bryan Bedder / Getty Images

Wallach licenciou-se na University of Texas, onde aprendeu a andar de cavalo. Serviu na Segunda Grande Guerra enquanto administrador de um hospital do exército e estudou representação ao lado de Marlon Brando e Montgomery Clift. Tanto na vida profissional como pessoal, a ligação de Wallach à arte da representação esteve sempre presente. Acabaria por se casar com a atriz, e futura mãe dos seus três filhos, Anne Jackson. Com ela contracenou vezes sem conta.

Há paixões indiscutíveis. O teatro não era só uma delas como também foi a primeira. O ator nunca se afastou do palco por muito tempo. Ao New York Times contou, em 1973, que “os filmes são um meio para um fim”, no sentido em que proporcionavam uma vida financeira estável para, durante um período de tempo, o ator voltar a representar de fronte do público. Na maioria das vezes, os papéis desempenhados no cinema eram homens sem lei, de bigode, maldosos ou, então, desagradáveis. Chegou a dizer que tinha uma vida dupla: se no teatro era o homem pequeno ou o homem irritado ou incompreendido, nos filmes fazia recorrentemente de vilão, personagens mais complexas do que aquelas a quem dava vida em palco.

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No filme Baby Doll – AFP/Getty Images

Apesar disso, não se deu nada mal no grande ecrã, tendo contracenado ao lado de Marilyn Monroe em Os inadaptados e Audrey Hepburn em Como roubar um milhão. Aliás, foi nessas condições que teve algumas oportunidades de mostrar a sua arte ao mundo, enquanto um bandido mexicano em Os sete magníficos e o cruel Tuco no clássico spaghetti-western de Sergio Leone, O bom, o mau e o vilão, ao lado de Clint Eastwood e Lee Van Cleef. O Guardian confirma: Wallach só se apercebeu que era o “feio” (na versão portuguesa o “vilão”) quando se sentou para ver o filme já concluído. O Huffington Post diz ainda que, anos depois de o respetivo filme ter estreado, Wallach ainda era reconhecido por estranhos que começavam a assobiar o tema sonoro da longa-metragem.

Tudo o que Wallach sabia e queria fazer na vida passava pela representação, pelo que não é de estranhar que tenha trabalhado praticamente até ao fim dos seus dias. Nos últimos anos participou em O padrinho: parte III, Mystic RiverO escritor fantasma. A sua última aparição foi em Wall Street: o dinheiro nunca dorme (2010), de Oliver Stone. Apesar dos muitos anos dedicados à arte cinematográfica, Mr. Wallach nunca foi nomeado para um Óscar. Só em 2010, um mês antes de completar 95 anos, um óscar honorário chegou-lhe às mãos com o objetivo de honrar e glorificar a longa carreira.

“Um camaleão por excelência que, sem esforço, habita uma grande diversidade de personagens, ao mesmo tempo que coloca a sua marca inimitável em cada papel”.

Academy of Motion Picture Arts and Sciences