Cristiano Ronaldo bateu um recorde no Mundial: foi o jogador com mais penteados novos em cada jogo. Assim começa o artigo de opinião de Santiago Roncagliolo, no jornal espanhol El País. Num tom humorístico e muito crítico, o texto acaba com uma analogia à mitologia grega e ao Narciso, que morreu afogado ao tentar beijar o reflexo da sua própria imagem. “Ao Cristiano Ronaldo, ameaça-o o espelho. E quando se afoga, arrasta com ele toda a equipa”, remata.
Roncagliolo fala mesmo de uma “estratégia capilar” para cada momento do Mundial. Perante a “poderosa” Alemanha, o jogador português optou por um penteado mais “conservador”, inspirado no futebolista espanhol Sergio Ramos. “Desde o Uruguai até ao Gana, de Dani Alves a Arturo Vidal, as estrelas deixaram-se seduzir pelo conceito de beleza cabeça de pincel: rapado à volta do crânio com uma abertura superior, na variante crista Balotelli ou como uma luta de gatos, tipo Neymar. A opção Cristiano Ronaldo incluía hectolitros de gel”, explica o também escritor peruano, a viver em Espanha há 14 anos.
Depois de lamentar o esforço de Ronaldo, o escritor fala ainda do penteado, de que mais se falou, no jogo que pôs Portugal e os Estados Unidos em campo. “CR7 percebeu que devia fazer uma coisa mais inesperada, que fizesse esquecer o passado e transmitisse uma imagem de renovação”. Daqui a imagem do relâmpago.
Mas o artigo do El País não serviu apenas para falar dos penteados de Cristiano Ronaldo, mas na sua fixação pela imagem. Chegando mesmo a dizer que o jogador português planeia também os seus gestos em campo e perante as câmaras. “Se algo lhe sai bem, brilha como um anúncio de uma pasta de dentes. Se sofre uma injustiça do árbitro, como um para as hemorróidas”.
A descrição prossegue. “Está obcecado consigo mesmo e com a sua imagem, muito mais que um ator de Hollywood.” E esse “narcisismo” é em parte culpa de que tenha chegado ao Mundial “em más condições”. Mais, Roncagliolo arrisca dizer que a sua musculatura está a torná-lo “mais lento”. E aponta o dedo ao facto de Ronaldo ter criticado a prestação da sua equipa em jogo. Lembrando que o “futebol é um trabalho de equipa”.