O ex-presidente Nicolas Sarkozy volta a estar no centro da mira da justiça francesa. Segundo noticia o diário Le Monde, foram esta manhã detidos para interrogatório o advogado de Sarkozy, Thierry Herzog, assim como dois magistrados, que se mantêm em custódia policial no Gabinete de Combate à Corrupção e Crimes Financeiros por alegado tráfico de influências.
Um dos juízes, Gilbert Azibert, do Supremo, foi preso esta madrugada na sua casa em Bordéus e, segundo o Le Monde, um outro juiz sénior, Patrick Sassoust, também foi detido. Os três estarão a ser interrogados por alegado “tráfico de influências” e “violação do segredo de justiça” e, segundo a imprensa francesa, não se descarta a hipótese de o próprio Sarkozy ser chamado a depor nos próximos dias.
A suspeita é de que o advogado e os juízes podiam fazer parte de uma rede de informadores dentro da polícia e dos tribunais que mantinha o ex-chefe de Estado, e os seus próximos no partido e no Governo, informados sobre os escândalos de corrupção e financiamento ilegal que estavam em curso e que podiam ameaçar a figura de Sarkozy.
As suspeitas surgiram na primavera do ano passado, no seguimento de uma investigação de corrupção que visava o alegado envolvimento da Líbia no financiamento da campanha presidencial de Nicolas Sarkozy em 2007 – nas eleições que derrotaram a socialista Ségolène Royal. Foi esta investigação que levou, em setembro, os investigadores a pôr os telefones de figuras próximas do Presidente e até do próprio Sarkozy sob escuta.
Terão sido então essas escutas que revelaram que Sarkozy recorria a um telemóvel clandestino, registado no nome de um Paul Bismuth, que usava precisamente para falar com o seu advogado Herzog, especialmente sobre o caso dos dinheiros da L’Oreal — alegadamente usados para financiar a campanha presidencial. Também Herzog tinha uma ligação direta ao juiz do Supremo Tribunal Civil, Gilbert Azibert, agora também em custódia policial.
Longa história de corrupção
São vários os casos de corrupção que, direta ou indiretamente, vão dar a Nicolas Sarkozy. O Le Monde faz uma lista dos seis casos mais mediáticos que continuam a assombrar o político francês. Um deles, que envolve também a sua ex-ministra da Economia, a agora diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, diz respeito a uma indemnização estatal de 403 milhões de euros concedida ao empresário gaulês Bernard Tapie, no seguimento da venda da Adidas. Outro tem a ver com o financiamento da campanha eleitoral de 2007, onde Sarkozy terá recebido ilegalmente dinheiro proveniente de Lilianne Bettencourt, herdeira da marca L’Oreal, e do então presidente líbio Muammar Kadafi.
Este mais recente passo da Justiça contra Sarkozy acontece num momento político especialmente delicado para a UMP, a formação conservadora que Sarkozy liderava, escreve o El País esta segunda-feira. É que, depois da demissão de Jean-François Copé da presidência do partido, a União por um Movimento Popular enfrenta uma grave crise de liderança que se espera ver resolvida depois do verão, e que se assume de extrema importância para fazer frente ao impopular Presidente socialista François Hollande nas próximas eleições de 2016.
Na disputa pelo partido estarão o próprio Sarkozy e nomes ligados a ele, como ex-primeiro-ministro do Governo anterior, François Fillon, e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Alain Jupé.