“O que dizem os teus olhos?” – poderia ter sido a pergunta feita por uma equipa de investigadores no Japão aos 320 indivíduos adultos de 25 espécies de cães, lobos, raposas e outros canídeos. Alguns são de fácil leitura, abertos à comunicação e reveladores das intenções, outros são completamente misteriosos.

Quem está familiarizado com cães reconhece que estes têm uma vasta comunicação corporal – saltam, rebolam, encolhem-se, ficam estáticos de orelhas em pé ou escondem a cauda entre as pernas. Segundo um estudo publicado em 2013, os humanos têm mesmo a capacidade de reconhecer as expressões faciais dos cães – orelhas para trás, dentes à vista, olhos semi-cerrados ou língua de fora.

Também os lobos, parentes dos cães, desenvolveram uma linguagem corporal complexa que lhes permite comunicar com os outros elementos do grupo, facilitando nas caçadas e no estabelecimento de hierarquias. Um lobo de orelhas hirtas à procura dos sons, olhos bem abertos e focados, e corpo tenso mais próximo do solo é sinal de que se prepara para caçar. Basta seguir-lhe o olhar e saberá onde está a presa.

Este olhar fixo em direção à presa é uma forma de comunicarem aos outros elementos do grupo que detetaram uma presa e em que direcção ela se encontra, segundo a equipa liderada por Sayoko Ueda, investigador na Centro de Investigação da Vida Selvagem da Universidade de Quioto, no Japão. Quanto maior o contraste das cores dentro e à volta do olho, mais evidentes serão os sinais de fixação do olhar, revela o estudo publicado na Plos One.

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Olhar fixo na presa

Os animais que vivem em grupo tendem a ter uma melhor comunicação. O lobo-cinzento, um dos exemplos apresentados, tem um forte contraste entre a cor da pupila (círculo no centro do olho), a íris (disco colorido à volta da pupila) e a pele ou pêlo à volta do olho – a pupila e o limite dos olhos são sempre pretos, tal como nos outros canídeos estudados, e a íris é clara.

Outra opção têm os humanos, como a íris é colorida e por vezes quase tão escura como a pupila, o contraste é dado pela parte branca visível no olho humano – a esclerótida. Mas note-se que os humanos são os únicos primatas em que se pode ver nitidamente a esclerótida, que também não é evidente na maioria dos canídeos estudados.

Porém, existem alguns predadores que tentam camuflar os olhos para aumentar o sucesso de caça. É o caso de alguns predadores solitários que têm cores muito semelhantes entre as três partes referidas – pupila, íris, pele ou pêlo à volta do olho. Sem conseguir distinguir o olho do animal, nem tão pouco a localização no focinho do animal, também não é possível distinguir para onde ele está a olhar.

Entre os que têm olhos perfeitamente distintos e com localização definida (tipo A) e os que têm os olhos totalmente camuflados (tipo C), ainda existem animais cujo contraste é apenas entre a pele ou pêlo e o olho (tipo B), revelando a localização do olho, mas como não existe contraste entre pupila e íris mantém-se a dificuldade de perceber para onde o animal está a olhar. Alguns animais que formam grupos maiores e durante períodos mais longos tendem a ter olhos do tipo A.

Mabecos, dingos e cachorros-do-mato-vinagre, que normalmente vivem em grupos, têm padrões tipo C, contrariando a teoria, mas nestes casos usam as vocalizações para comunicarem com o grupo mesmo durante as caçadas. Os cães domésticos também são uma exceção, os cruzamentos e domesticação levaram à criação de padrões que já pouco têm a ver com as funções iniciais.