Presley morreu. A ararinha-azul macho que se acredita ter servido de inspiração ao filme “Rio” da Blue Sky Studios faleceu no dia 29 de junho, noticia a National Geographic. Esta ave, uma das mais raras do mundo, não teve a mesma sorte de Blu, personagem do filme de animação, que encontrou Jade e teve crias. Presley não deixou descendência, tornando cada vez mais difíceis os esforços de conservação desta espécie.
Existem apenas cerca de cem ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii), todas elas sob cuidados humanos em centros de conservação e reprodução. Os cruzamentos entre animais aparentados neste centros torna os animais mais frágeis porque aumentam a probabilidade de aparecimento de doenças na descendência e diminui a variedade entre animais.
Presley e outra ararinha-azul ainda viva são os últimos animais nascidos na natureza. Os genes destas aves poderiam aumentar a diversidade genética das populações em cativeiro, mas Presley morreu sem deixar descendência e sem os cuidadores terem tido oportunidade de recolher sémen para tentar inseminação artificial. A outra ararinha-azul vive livre na natureza, mas sem parceira com quem acasalar acabou por fazer par com uma arara-maracanã-verdadeira (Primolius maracana). Mas as duas espécies diferentes não conseguem ter crias.
As ararinhas-azuis costumavam viver no noroeste do Brasil, mas agora estão consideradas extintas na natureza. Foram vários os problemas que levaram ao desaparecimento desta espécie como a desflorestação (o abate das árvores que lhes forneciam abrigo e alimento) ou a introdução de abelhas exóticas que competiam com as araras pelo espaço nas árvores. Outro, de que Presley também foi vítima, é a captura ilegal para animais de companhia.
O tráfico de animais selvagens é o terceiro maior tráfico do mundo a seguir ao tráfico de armas e de droga, refere-se na página Animal Diversity Web. Capturadas com custos baixos, as aves podem ser vendidas por valores altíssimos – a venda de uma ararinha-azul pode render 200 mil dólares (cerca de 147 mil euros). A captura dos adultos e ovos quer de araras quer de outras aves na América-do-sul é uma das principais ameaças às aves neste continente.
Foi isso que aconteceu a Presley. Foi capturado na natureza nos anos 1970 e levado para uma casa particular. Viajou por vários países na Europa até chegar aos Estados Unidos. Quando, em 2002, a então dona disse à veterinária que tinha uma ararinha-azul doente em casa, a médica nem quis acreditar, sabia que a ave era das mais raras do mundo, conta o National Geographic. Terá sido esta história que inspirou o filme Rio.
Portugal não está fora deste tráfico. O aeroporto de Lisboa é uma porta de entrada para a Europa – só em 2012 foram apreendidos mais de 500 animais, revela o Público. Alguns dos animais podem mesmo ficar no país e ser vendidos nas lojas de animais. Cabe a cada cidadão exigir um certificado que comprove que o animal não foi capturado na natureza de cada vez que pensa em adquirir um animal exótico. Estes certificados são emitidos pela CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em perigo de extinção),
Presley já tinha regressado ao Brasil há mais de dez anos. Viveu cerca de 40 anos, um recorde dentro da espécie, visto que os animais sob cuidados humanos não costumam ir muito além dos 30 anos. No filme “Rio 2”, Blu e Jade encontram uma população de ararinhas-azuis na floresta, mas esse é um futuro demasiado fantasioso para a realidade desta espécie.