Só tinha acontecido uma vez. Nas camadas jovens, Portugal só havia caído com a Alemanha em Campeonatos do Mundo e Europeus em 1993, cortesia de um tal de Jancker, o avançado gigante que faria nome no Bayern Munique. A seleção lusa de sub-19 perdeu esta quinta-feira a final do Campeonato da Europa, em Budapeste, na Hungria, por um-zero. Mukthar foi o herói da partida. Ivo Rodrigues e Tomás Podstawski deixaram boas indicações.

A primeira parte foi quase de sentido único. Esta Alemanha é poderosa, mas parece que houve respeitinho a mais por parte dos portugueses. Talvez seja um trauma herdado dos mais velhos. Aquelas camisolas brancas e calções pretos faziam lembrar Kroos, Özil, Götze, Müller e companhia, com certeza. Portugal chegava à final do Europeu depois de vencer os três jogos do Grupo A — Israel (3-0), Hungria (6-1), Áustria (2-1) — e superar a Sérvia nas meias-finais nos penáltis, depois de um zero-zero nos 120′.

Ivo Rodrigues assumia-se como o português mais descomplexado. O jogador do FC Porto tem um toque de bola de alto gabarito e deixou notas positivas, quem sabe para Lopetegui ver. Outro jogador quase no mesmo patamar era Tomás Podstawski, mais um atleta dos dragões. A qualidade de passe e a simplicidade pautaram a sua atuação. Mas tudo isto seria muito pouco para travar a força alemã.

E foi André Moreira, o guarda-redes do Ribeirão, que começou a dar nas vistas, ao encher a baliza lusa. Stendera foi o primeiro a tentar a sorte, mas o remate embora forte saiu à figura. Depois foi Selke, que não teve arte e engenho para desviar um cruzamento da direita. Esta Alemanha fazia lembrar a seleção sénior, que acabou de ganhar o Campeonato do Mundo, no Brasil: gosta de jogar curtinho e em constantes movimentações. O ADN desta gente mudou.

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À passagem da meia hora, Moreira voltaria a assinar mais uma grande defesa, agora foi Brandt a tentar. Mas o guarda-redes português nada poderia fazer nove minutos depois: Stendera sacou um cruzamento da direita e Mukthar, com alguma sorte à mistura, conseguiu desviar ao primeiro poste, 1-0. O golo parece ter soltado um pouco Portugal, mas só um pouco. Os níveis de coragem, esses, até cresceram, traduzindo-se em mais investidas no ataque. O intervalo chegaria sem que houvesse mais momentos dignos de registo.

A segunda parte foi mais equilibrada, mas, embora os portugueses tenham mostrado intenções renovadas e mais ambiciosas, os alemães optaram igualmente por acalmar o ritmo, atacando com menos jogadores. A emoção foi também temperada, a partida abrandou. Mas Portugal poderia ter feito mossa aos 68′. Gelson, depois de uma combinação com Rafa, cruzou atrasado para Rony Lopes. O novo jogador do Lille — por empréstimo do Manchester City — rematou rasteiro em jeito, ao estilo Henry, mas Kimmich interceptou; na recarga o canhoto viu Schnitzler, o guarda-redes germânico, negar-lhe o golo. Que grande oportunidade.

Até ao final haveria pouco para reportar. Portugal volta a vergar perante a Alemanha, mas caiu de pé. Esta seleção de Hélio Santos deixou boas indicações e sossegou, quem sabe, alguns profetas da desgraça que acreditam não haver jogadores jovens de talento no futebol português. Veremos se os clubes vão apostar nestes miúdos…