“Se quiseres a minha camisola, dou-ta no fim”. Foi assim, a provocar, que tudo começou. “Não, só quero a da tua irmã”, respondeu o outro papo que batia na conversa. E pronto, tudo acabou à cabeçada. Mas só uma, a que Zinedine Zidane deu no peito de Marco Materazzi, em 2006, em plena final do Mundial. Escândalo. A memória colou e nunca mais deixou de fazer companhia aos dois jogadores. Agora, até vai acompanhar um deles até à Índia.

Calma, o careca francês, o craque que ainda brilha a cada jogo de solidariedade para o qual é convidado, está em Madrid. Por enquanto lá vai treinando o Castilla, a equipa de reservas do Real, onde até está o seu filho, Enzo Zidane. Para já, sucesso é coisa que lhe foge — vai com três derrotas no trio de jogos que a equipa já fez na segunda divisão B espanhola. Mas está ocupado e tem o que fazer.

Ou seja, sobra o gigante (1,93 metros) Materazzi. O tal que, em 2006, encaixou a cabeçada do francês pouco antes de levantar o troféu do Mundial. Não seria o último: em 2011, com José Mourinho, conquistou a Liga dos Campeões pelo Inter de Milão, já depois de vencer cinco vezes seguidas a Série A, em Itália. Eis um resumo rápido dos títulos que o italiano guarda em casa desde 2011, ano em que, com 38 anos, deixou de jogar futebol. Pelos vistos, era uma decisão temporária.

Afinal, Marco Materazzi voltará a ser pago para jogar. E treinar. O italiano foi esta sexta-feira confirmado para dar ordens aos jogadores e, se necessário, vestir a camisola do Chennai Titans, equipa que participará na nova Super Liga Indiana. Isso mesmo, aos 41 anos, Materazzi vai ser jogador-treinador na Índia, num clube detido por Abhishek Bachchan, uma das estrelas de Bollywood, a indústria de cinema do país. Inesperado o suficiente? Talvez não, por isso a história continua.

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Ao ser escolhido para treinador do Chennai, o italiano vai coincidir com outros nomes que, há uns anos, andavam a discutir quem ganhava o quê em relvados europeus. Alessandro del Piero, o também campeão do Mundo em 2006, jogará pelo Dheli Dinamos; David Trezeguet, vencedor do Mundial de 1998 e do Europeu de 2000, é diretor geral e treinador do FC Pune; e Joan Capdevilla, ex-defesa esquerdo do Benfica e membro da super-Espanha que venceu o Euro 2008 e o Mundial 2010, aterrou no North East United.

Estes são alguns exemplos de estrelas cadentes que foram resgatadas para obedecerem às regras da Indian Super League (ISL). A nova competição, que se realizará apenas entre 12 de outubro e 20 de dezembro, pretende colocar o futebol a fervilhar no país. E, para o conseguir, organizou uma competição com oito equipas que devem respeitar três leis: ter um treinador “famoso”, pelo menos sete jogadores estrangeiros e uma estrela do futebol mundial. Por lá também já andam seis portugueses, como Edgar Marcelino e Miguel Garcia, ambos formados no Sporting.

O dentudo foi parar ao México

No Sporting, este nunca esteve. Até chegou a treinar no Estrela da Amadora, com idade de júnior, mas ficou por aí. Seguiu para outras paragens, voltou ao Grémio, do Brasil, e de lá arrancou para cravar o nome na história do futebol: um Mundial (2002), uma Liga dos Campeões (2006), uma Copa dos Libertadores (2013) e duas vezes eleito o Melhor Jogador do Mundo (2004 e 2005). Eis o percurso de Ronaldinho Gaúcho.

Aos 34 anos, ganhou tudo e mais alguma coisa. Passou os últimos dois anos e dois meses no Atlético Mineiro, clube com o qual rescindiu contrato em junho. Para arrumar as chuteiras? Não, “ele vai jogar até aos 42 anos”, até chegou a brincar Roberto Assis, o seu irmão e empresário. Talvez sim, talvez não. Certo é que, esta sexta-feira, Ronaldinho foi apresentado no Querétaro.

Descodificando: no mesmo dia em que se confirmou a viagem de Marco Materazzi para a Índia, o internacional brasileiro foi desvendado como jogador do atual 8.º classificado do campeonato mexicano. “Estou contentíssimo por estar aqui. Sinto-me jovem, com muita ambição e como se tivesse a começar outra vez”, garantiu Ronaldinho, ao falar perante uma sala apinhada de jornalistas e flashes de câmaras a dispararem na sua direção.

E já agora, porquê o México? “Senti-me muito confortável aqui. Acho que posso fazer algo grande”, resumiu, durante a apresentação. Para o Querétaro, a jogada já surtiu efeito — o próximo encontro da equipa já terá a lotação esgotada e o estádio do clube estará repleto com 45 mil adeptos. E Ronaldinho só aparecerá no relvado ao intervalo, para os cumprimentar. É o efeito de um campeão do Mundo e estrela do futebol. De repente, o mundo já fala no Querétaro.