A secção consular da embaixada de Portugal em Argel processou nos três meses do verão de 2014 mais vistos do que os emitidos anualmente, prova do crescente interesse dos argelinos por Portugal, disse à Lusa um responsável da missão. “Notou-se ainda um grande crescimento dos vistos de negócio, que mantêm o crescimento ao longo de todo o ano, mas nestes três meses o turismo foi avassalador. São o turismo e os negócios que nos estão a fazer emitir vistos”, precisou Fernando Morgado, encarregado da secção consular da embaixada, assinalando ainda o início de uma ligação direta das linhas aéreas argelinas entre as duas capitais.

O relacionamento económico entre os dois países foi destacado pelo embaixador António Gamito, que acompanha desde o final da tarde de domingo a visita oficial de 24 horas a Argel do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete. “A Argélia é o 11º destino das exportações portuguesas. Até julho tínhamos vendido à Argélia cerca de 400 milhões de euros”, precisou numa referência ao “segundo mercado africano para Portugal”, logo a seguir a Angola, e à frente de países como a China, Marrocos ou Brasil. “As relações comerciais entre Portugal e a Argélia traduzem-se na posse de um coeficiente de 130% de cobertura nas nossas exportações versus importações. E estamos a uma hora e meia de voo de Lisboa”, indicou.

São motivos que implicam a definição de Argélia como um “parceiro estratégico” onde já estão instaladas cerca de 80 empresas portuguesas. Já em termos de importações, o gás permanece o principal produto, mas a “grande diminuição” dos envios permitiu aumentar a diferença entre importações e exportações e com um saldo que é favorável a Portugal desde 2013. “Nos primeiros sete meses de 2014 importámos cerca de 260 milhões de euros em gás argelino. Mas a Galp é que decide em termos de compra de ramas de petróleo e de gás”, explicita o diplomata.

A situação em termos de segurança na Argélia, país situado num Magrebe particularmente instável desde o início da designada “primavera árabe”, constitui uma preocupação permanente para os responsáveis da embaixada, apesar de ser definida como “relativamente estável” quando comparada com as turbulências na Líbia ou no Egito. “Nesse aspeto a Argélia é um farol de estabilidade no norte de África”, assegura António Gamito. “Portugal pretende que assim continue, porque é potenciador do desenvolvimento interno da Argélia como do desenvolvimento do relacionamento bilateral”.

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As garantidas de estabilidade interna constituem assim um fator decisivo para o prosseguimento dos investimentos das empresas portuguesas. “Acompanhamos isso com grande atenção, porque não dá para investir em países que não tenham estabilidade. Trabalhamos com as empresas seriamente sobre isso. Numa escala de um a dez consideraria a Argélia segura em torno dos seis, sete”, sustentou António Gamito.

A importância da diplomacia económica voltou a ser confirmada nesta curta visita oficial de Rui Machete, que logo após a sua chegada a Argel no final de tarde de domingo, e após ser recebido no aeroporto pelo seu homólogo Ramtane Lamamra, participou num jantar com representantes institucionais e empresariais argelinos e portugueses que operam no país. “Temos uma boa relação política, consideramos que os países do Magrebe, neste caso a Argélia e Portugal, necessitam de reforçar as relações de vizinhança e manter conversações sobre os problemas políticos com que nos deparamos. Há aspetos de cooperação, sobretudo nos campos económico e cultural, que nos interessam muito desenvolver”, referiu Rui Machete à chegada ao aeroporto internacional Houari Boumediene.

Na agenda da visita, que se realiza no âmbito das deslocações aos países da margem sul do Mediterrâneo integrados no Diálogo 5+5 — o mecanismo de cooperação do Mediterrâneo ocidental –, destaca-se o encontro na manhã de segunda-feira com o seu homólogo argelino Ramtane Lamamra, antes de uma conferência de imprensa conjunta e do almoço oferecido à delegação nacional. No início da tarde e antes do regresso a Lisboa, o chefe da diplomacia reúne-se ainda com o primeiro-ministro Abdelmalek Sellal.