Decorreu esta noite no Sanders Theatre em Harvard (EUA) a 24ª edição dos prémios Ig Nobel. O tema deste ano: comida. Foi entregue uma dezena de prémios e como era de esperar, toda a cerimónia foi de encher a barriga de boa disposição. Começou ligeiramente atrasada e com avisos para se prestar atenção às saídas de emergência, sobre as regras para a construção e projeção dos tradicionais aviões de papel e restrições para o uso de fotografia e vídeo — com exceção para o Twitter e com a etiqueta #IgNobel.
Para descarregar energias, segue-se uma chuva de aviões para o homem alvo:
Os laureados sobem ao palco (em fila indiana e agarrados a uma corda “para não se perderem”) e são seguidos pelo mestre de cerimónias: Marc Abrahams, editor e co-fundador da Annals of Improbable Research (que organiza o evento). Marc anuncia o tema do ano: comida. E saúda os vencedores dos prémios Nobel “a sério” ali presentes para entregar os troféus Ig Nobel, para introduzir experiências e para as lições de sapiência “24/7”. Apresenta de seguida as duas “lanternas humanas”, uma mulher e um homem, pintados de cinzento-prata (ele, Jim Bredt, o co-inventor da impressão 3D), a banda e toda a equipa de produção, incluindo “Miss Sweety Poo”, uma menina de 8 anos que manda calar com gritos irritantes os oradores mais demorados.
São anunciados os prémios atribuídos aos laureados (dos cinco continentes): uma estatueta, um papel assinado pelos Nobel “a sério” e “10 triliões de dólares”. Do Zimbabué (1.00 ZWD = 0.00276319 USD). Todos se riem mas ninguém consegue fazer a conta. Siga para os primeiros prémios:
Física (Japão): Estudo da fricção entre a sola do sapato e a casca da banana e da casca da banana com o chão quando uma pessoa pisa a casca de banana que está no chão.
Neurociência (China, Canadá): O que é que acontece no cérebro das pessoas que veem a cara de Jesus nas torradas.
Pausa para um momento de ciência: formação instantânea de gelatina.
Depois de um primeiro momento de ópera dedicado ao tema desta 24ª edição (comida), mais prémios Ig Nobel:
Psicologia (Austrália, Reino Unido, EUA): Recolha de evidências de que as pessoas que se deitam tarde têm tendência para ser mais narcisistas, manipuladoras e psicopatas que as que acordam cedo.
Saúde Pública (Republica Checa, Japão, Índia, USA): Investigações sobre se é mentalmente perigoso para um ser humano ser dono de um gato (“perigos” que vão da toxoplasmose à depressão).
Segue-se a primeira lição de sapiência: “24/7 lectures”. Consiste numa descrição técnica precisa de um tema em 24 segundos e uma explicação clara do mesmo em 7 palavras. Não é para todos. A última foi feita por Rob Rhinehart, o inventor do Soylent (um alimento de substituição de que já falámos aqui) entretanto servido aos cinco prémios Nobel ali presentes. Muitas dúvidas sobre se gostaram.
Marc Abrahams apresenta de seguida os laureados com um Ig Nobel de outras edições e que fizeram questão de estar presentes. Mas faltou Francis Fesmire, falecido recentemente, que venceu o prémio da medicina em 2006 por ter estudado técnicas de paragem de soluços com recurso ao toque retal. O apresentador pediu (de forma séria e sentida) uma saudação “dedo esticado”, e toda a gente o fez.
E mais prémios:
Biologia (República Checa, Alemanha, Zâmbia): Quando os cães defecam e urinam alinham o corpo com o campo magnético da terra. (Os autores explicam o processo científico e atiram saquinhos de… para o público).
Arte (Itália): Medir a dor que as pessoas sentem quando observam uma pintura bonita ou uma feia enquanto são atingidas na mão por um apontador laser.
Economia (Itália): Estudo sobre a angariação de fundos da prostituição, drogas e transações ilícitas para o auxílio à economia europeia.
Medicina (EUA, Índia): Tratamento da hemorragia nasal com tiras de bacon.
Ciência do Ártico (Noruega, Alemanha): Como é que as renas reagem quando se deparam com pessoas disfarçadas de urso polar.
Nutrição (Espanha): Caracterização das bactérias do acido láctico isolado nas fezes dos bebés como fermento na produção de salsichas.
Foram dez prémios entregues numa cerimónia bem organizada, com muitos aplausos a cientistas que exploraram temas “cómicos” e aparentemente inúteis. O tempo o dirá se esta ciência não será o ponto de partida para qualquer coisa maior. Para o ano há mais Ig Nobel, uma inspiração.