As modelos deslizam imponentes pela passerelle, a imprensa especializada está de máquina fotográfica e bloco de notas na mão, vários espaços da cidade destituem-se da sua função normal e tornam-se palco de um espetáculo. Este foi o cenário vivido durante toda a semana de moda em Paris, que arrancou a 24 de setembro – a mais importante da Europa (dizem alguns), a mais importante do mundo (dizem os entusiastas da capital francesa).

Fátima Lopes apresentou a sua coleção no Cabaret Lido esta segunda-feira e Luís Buchinho teve o seu momento na Biblioteca Nacional de França, na terça-feira. Apresentaram as coleções para a Primavera/Verão 2015 e foram os embaixadores da moda portuguesa através da plataforma que quer dar visibilidade aos criadores: o Portugal Fashion.

Por trás do Portugal Fashion está a Associação nacional de Jovens Empresários (ANJE). A associação promove o empreendedorismo e “estimula a capacidade de os indivíduos e as empresas irem mais além”. Por isso, “faz todo o sentido” organizar o Portugal Fashion, diz Rafael Rocha, responsável de comunicação da ANJE. Há 15 anos que o Portugal Fashion se apresenta na Paris Fashion Week, duas vezes por ano. Mas a experiência internacional da plataforma começou em 1999, em São Paulo (Brasil). “A moda é um negócio e queremos atingir mais mercados”, diz Rafael Rocha. Conversámos com o responsável sobre a visibilidade dos designers portugueses e a experiência em terras parisienses.

Como surgiu o Portugal Fashion?

O Portugal Fashion surgiu em 1995 para ser uma plataforma que permitisse dar visibilidade aos criadores portugueses. Nós sempre fomos conhecidos como um país que confecionava bem, que tem uma indústria bem vista além-fronteiras, por isso é que as grandes marcas se socorriam do nosso país para produzirem os seus produtos. Mas não tínhamos uma marca portuguesa. Era importante criar casamentos entre a indústria (a capacidade produtiva) e os criadores. Depois desse “arrumar da casa” dentro de portas, queríamos ir para fora, poder mostrar ao universo da moda que Portugal também se podia afirmar nesta área, com capacidades para se mostrar ao lado de todos os outros como um país que também era produtor de moda. Sempre fizemos bem a confeção. Estamos a acrescentar agora a criatividade dos designers.

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Como é que o Portugal Fashion é visto em Paris?

Em 2000, na primeira vez que estivemos em Paris, os criadores portugueses fizeram um desfile coletivo. Houve uma dificuldade naquela altura de pôr a moda portuguesa na capital do mundo da moda, porque Portugal não era conhecido como produtor de moda. Não havia nomes de estilistas, era Portugal ali. Passados 14 anos, cada criador tem o seu nome inscrito no calendário, cada criador escolhe o seu espaço, tem a sua marca. A Fátima Lopes já abriu a semana de moda de Paris. Há 14 anos isso era impensável. O Felipe Oliveira Batista (estilista), por exemplo, é hoje diretor criativo da Lacoste. E é português. Sem dúvida que, para isso, contribuiu muito este trabalho árduo, resiliente e persistente de projeção da moda portuguesa. Se está tudo feito? Longe disso. Ainda há muito a provar.

Nós vemos artistas portugueses, escultores portugueses e futebolistas portugueses a vencer além-fronteiras. Temos muito hoje por onde ir beber.

Como é que o Portugal Fashion apoia os criadores?

Sem os criadores e sem a indústria têxtil não existe o Portugal Fashion. O que pretendemos é ajudar um setor português que já passou por muitas dificuldades mas que hoje se reinventou. Hoje há moda portuguesa. Há um caminho ainda a percorrer, mas o que vamos fazer é tentar contribuir para que seja um dos setores da economia portuguesa que dá mais cartas. Temos de explorar aquilo que sabemos fazer bem.

Fazemos um bocadinho de tudo. Prestamos apoio desde a cenografia dos espaços para o desfile até à contratação das equipas de casting. No apoio aos jovens criadores que estão a crescer, tentamos passar uma mensagem: a moda é um negócio. Paralelamente à vertente de passerelle, a moda é um negócio e temos de vender.

Antes de Paris, o Portugal Fashion esteve em Viena e Londres. Como é definida a rota internacional?

O Portugal Fashion não quer entrar em todas as semanas de moda. Só naquelas que entende que podem contribuir para a projeção da moda portuguesa. Já estivemos em Nova Iorque, Istambul, Madrid e Barcelona. Paris foi a única semana da moda que nunca deixámos de fazer. Estivemos em Londres porque é um local de crescimento de novas tendências, de novas formas de pensar, é um alvo forte de criação. Viena é um mercado emergente, é um mundo novo com muitas oportunidades e muito por explorar. A Europa será sempre o nosso mercado natural, porque fala a nossa linguagem, mas equacionamos outros mercados. Queremos que o Portugal Fashion seja visto e equiparado àquilo que se faz de melhor no mundo.

 

O Observador viajou a convite do Portugal Fashion.