É esquisito. Ou “estranho”, vá. Pudera. Para quem está habituado a sentir o barulho, o rugir e a força de um motor, colocar as mãos no volante de um carro elétrico é “uma realidade totalmente diferente”. Então se for para correr, para ser mais rápido que os outros a percorrer uma pista, a coisa agrava-se. Mas “lá está, é só ao início”, garante quem já se habituou à ideia e, esta sexta-feira, vai experimentá-la a sério (a SportTV5 transmite a corrida na madrugada de sábado, às 6h). Será em Putrajaya, na Malásia, que António Félix da Costa andará a correr pela primeira vez dentro de um monolugar elétrico. E logo no meio de uma cidade.
A Fórmula E é mesmo assim — recheada de novidades. Além de todos os carros se mexerem graças a um motor elétrico de 270 kilowatts, empurrado por uma bateria com uma potência equivalente a 270 cavalos, todas as dez corridas do circuito mundial estão dentro de cidades. Sempre. “É o único campeonato onde isso é permitido, exatamente pela não-emissão de barulho e poluição”, resumiu Félix da Costa ao Observador, ainda antes de falhar a primeira corrida do mundial — em Pequim, na China, a 13 de setembro –, por coincidir com uma prova do campeonato de DTM, no qual o português também participa.
O piloto, de 23 anos, teve pena. Afinal, não é todos os dias que a oportunidade toca à campainha com um convite para ser um dos que “vira a página do desporto automóvel”. E espera-se que cative os espetadores logo à primeira época, em que todas as dez equipas têm o mesmo monolugar, um Spark-Renault SRT-01E — e, por corrida, têm de utilizar dois carros, havendo uma paragem obrigatória nas boxes para trocarem de monolugares.
Ou seja, com a mesma potência, motor e especificações: só variará o peso consoante os quilos do próprio piloto e a gestão da energia da bateria que os engenheiros consigam aprimorar. Mas esta igualdade durará pouco tempo e acabará “quando os engenheiros começarem a trabalhar e a desenvolver as suas ideias nos carros”, avisa Félix da Costa, lembrando que, a partir da segunda época, cada equipa poderá desenvolver o seu próprio monolugar. Algo que interessa, ainda para mais “neste campeonato, em que a gestão das baterias será o mais importante”.
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— Formula E (@FIAFormulaE) November 15, 2014
Para já, o piloto português está na Amlin Aguri, equipa japonesa. Félix da Costa fala “no orgulho” que sente em ter sido escolhido para ser um dos que andará a acelerar na Fórmula E. Onde não quer ouvir falar de comparações com a Fórmula 1, na qual é piloto de testes pela Red Bull. “Quem acha que é para as comparar ainda não entendeu o conceito da Fórmula E”, defende, antes de sublinhar a prioridade das “zero emissões” e “energias renováveis” que puxa pela modalidade.
“Acredito que a Amlin Aguri tem uma boa estrutura, pessoas competentes mas ainda vãos necessitar de algumas corridas para evoluir e chegar às melhores soluções nesta parte das baterias, portanto quero ajudar ao máximo a equipa a melhorar”, defendeu António Félix da Costa.
E, claro, o facto de todas as corridas serem citadinas, nas mesmas ruas e estradas onde o cidadão comum conduz o seu carro. António promete dar “sempre o melhor” e lutar “pelos lugares que forem possíveis”.
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Para já, na primeira corrida, a Amli Aguri conseguiu um 15.º lugar graças à britânica Katherine Legge, enquanto Takuma Sato, japonês que passou oito anos na Fórmula 1, não terminou a prova. O que mostra que a experiência não é tudo. “É importante, como a do Takuma, não há dúvida, mas devo dizer que na Fórmula E tudo é novo, quer para mecânicos, engenheiros, pilotos e até organização”, explicou o piloto português.
Um dos que, a cada corrida, pode cair no goto dos espetadores e, em troca, ser galardoado com mais potência para utilizar no monolugar — antes de cada prova há uma votação, na qual os adeptos da Fórmula E podem votar no piloto a cujo carro pretendam atribuir mais potência para utilizar durante a corrida. Os três pilotos mais votados, como tal, recebem um brinde: cinco segundos de Fan Boost que aumenta momentaneamente a potência do carro dos 150 para os 180 kilowatts. Equivalente a uma passagem de 202 cavalos de potência para os 243.
A votação fecha uma hora antes da corrida. Será António um dos sortudos?