Hugo Cortez jogou futebol profissional até aos 22 anos, mas uma lesão obrigou-o a mudar de rumo. Foi aí que surgiu a hipótese de passar do campo para a bancada e treinar equipas. Há cerca de quatro anos, tirou um curso de treinador de futebol e percebeu que o trabalho de quem planeava a tática e a estratégia de um jogo se baseava num processo “arcaico”, sustentado em folhas de papel e em Excel. “Era tão mais difícil e nada eficiente”, disse ao Observador.

No início de 2013, começou a nascer a ideia que mais tarde se viria a chamar Coacher e que pretende facilitar e melhorar o trabalho de treinadores amadores e semiprofissionais. A aplicação que Hugo Cortez desenvolveu com Vítor Almeida aposta num mercado global de cerca de seis milhões de treinadores. Em dezembro de 2013, venceu o Concurso de Empreendedorismo EY e em março de 2014, os empreendedores rumaram a Inglaterra para participar no programa de aceleração britânico para startups Dotforge.

A Coacher precisa de um investimento entre 125 e 188 mil euros e está à procura dele na Seedrs.

Com sede em Londres, a startup anda agora à procura de investimento, mas em vez de bater à porta das capitais de risco, está a bater à porta de todas as pessoas com interesse no projeto. Como? Através de um sistema de crowdfunding, ou seja, de financiamento coletivo. A Coacher precisa de um investimento entre 125 e 188 mil euros (100 e 150 mil libras) para aumentar a equipa – constituída atualmente por quatro pessoas – melhorar o produto e avançar com o desenvolvimento mobile, em Lisboa. E está à procura dele na Seedrs, plataforma luso-britânica de equity crowdfunding.

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A startup foi fundada em Londres, porque essa era uma das contrapartidas do Dotforge, mas também porque podia trazer benefícios no acesso ao financiamento, explicou Hugo Cortez. A sede fiscal da empresa é britânica, mas o produto está a ser desenvolvido em Portugal. Antes de recorrerem à Seedrs, a Coacher já tinha recebido cerca de 20 mil euros do Dotforge e um investimento inicial da capital de risco portuguesa Faber Ventures.

Dados e análise ‘mobile’ 

Objetivo da Coacher: ajudar o dia a dia dos treinadores de futebol. Como? Através de um interface, onde podem registar dados sobre o comportamento de cada jogador durante os treinos e jogos. Depois, podem aceder aos dados e transformá-los em estatísticas, para perceber a evolução, discernir padrões de comportamento e desenvolver estratégias.

A app está disponível em português e inglês na App Store, mas apenas em versão para iPad, única que está a ser desenvolvida, por enquanto. Para breve, está o lançamento da versão para sistema operativo Android e web. Para a versão Beta, de teste, que vai ser lançada no início de janeiro, estão já inscritos 340 utilizadores e dez mil treinadores estão em lista de espera.

Durante três meses, a utilização da app vai ser gratuita, mas terminado esse tempo, é cobrada por uma mensalidade de 15 euros (13 libras) aos treinadores inscritos. Porque escolheram o sistema de crowdfunding para se financiarem? “Para podermos dar a oportunidade à grande comunidade de treinadores, espalhada por todo o mundo, de investir e se tornar acionista de um projeto que tem como objetivo ser uma referência a nível mundial na sua grande paixão: o futebol”, explicou Hugo Cortez.

O ‘crowdfunding’ pretende democratizar o acesso ao investimento e a Seedrs é a primeira plataforma do género a operar de forma regulada no mercado mundial

A Seedrs é uma plataforma que permite que indivíduos e instituições europeias invistam o que quiserem em empresas com potencial de crescimento, sem terem de se deslocar. Basta um dispositivo com acesso à internet para que qualquer pessoa invista nos projetos em que acredita, em euros e libras. Objetivo: democratizar o acesso ao investimento.

Lançada em 2012, é a primeira plataforma do género, a nível mundial, a operar de uma forma regulada, sendo autorizada e regulada pela Financial Conduct Authority, regulador do mercado financeiro no Reino Unido. Dois anos depois, a plataforma luso-britânica é a maior do género na Europa, com mais de 900 investidores mensais a investir cerca de dois milhões de euros por mês, num total de mais de 100 empresas.

Atualmente, a Seedrs conta com investidores de 30 países europeus e, recentemente, permitiu que uma empresa cotada, a Chapel Down, empresa britânica do setor de bebidas e vinho, se financiasse através de crowdfunding. Junto de 1.407 investidores, a empresa conseguiu angariar 3,95 milhões de libras, perto de cinco milhões de euros.  

Em novembro, a Seedrs adquiriu a Junction Investments, uma plataforma americana de investimento online, abrindo a expansão para o outro lado do Atlântico.