Esperava-se um vislumbre de política, mas não houve nada. Durão Barroso manteve-se dentro do papel que lhe estava destinado esta tarde como orador nas Conferências de Lisboa e falou apenas do tema em discussão: desenvolvimento. O ex-presidente da Comissão Europeia disse que o desenvolvimento sustentável é impossível sem educação, infraestruturas e respeito pelas regras do direito. Afirmou ainda que desenhar políticas de ajuda ao desenvolvimento é comparável ao artesanato por ter de funcionar de forma indicada para cada país e que os países doadores acabam por receber tanto ou mais do que dão aos países que menos têm.
Entrou e saiu da conferência na Fundação Calouse Gulbenkian sem falar aos jornalistas, desculpou-se com uma gripe e disse que não comentava a prisão de José Sócrates – horas antes, Barroso tinha sabido que o seu ex-comissário e uma das figuras de relevo da política europeia, Jacques Barrot, tinha morrido no metro de Paris, possivelmente de doença súbita.
Mes profonds sentiments pour le decès de mon ami, ancien commissaire et grand européen Jacques #Barrot / JMB
— José Manuel Barroso (@JMDBarroso) December 3, 2014
Esta tarde de quarta-feira subiu então ao palco para falar sobre desenvolvimento e mostrar o que foi feito a nível europeu nos últimos 10 anos, mostrando ainda o que há a fazer em termos de ajudas comunitárias a países terceiros em vias de desenvolvimento.
Os únicos comentários mais ligados ao seu passado, foi quando admitiu que um dos cargos que mais gostou de desempenhar foi o de secretário de Estados dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação por ter nessa altura descoberto África e que, como presidente da Comissão, sempre deu importância a este continente e à relação privilegiada que ainda hoje Portugal mantém com muitos países africanos.
Barroso diz que se deve pôr de lado qualquer problema em analisar de forma “crítica” a ajuda ao desenvolvimento. Deve-se ver o que tem resultado em termos práticos, disse, apontando que no geral há uma melhoria das condições de vida e países emergentes, mas que alguns destes Estados apresentam ainda “problemas de sustentabilidade”. O antigo primeiro-ministro salientou que um dos “maiores desafios do ponto de vista social, mas também do ponto de vista da politica” é que o crescimento por todo o mundo não está a ser acompanhado pela criação de emprego e que isso requer “um processo holístico” de intervenção junto de países em vias de desenvolvimento.
A nível europeu – a União Europeia é o maior doador mundial de ajuda ao desenvolvimento -, Barroso destacou três formas que do seu ponto de vista podem colmatar as necessidades destes países e ao mesmo tempo gerar retorno para os países doadores. Apostar no blending ou uma espécie de parcerias público-privadas a nível europeu para canalizar dinheiro privada para a ajuda ao desenvolvimento, ajuda ao comércio ou aid for trade que impulsiona a exportações destes países e ainda maior apoio às integrações regionais.
O social-democrata ressalvou ainda que no que diz respeito a fundos de ajuda ao desenvolvimento a quantidade não é importante, mas sim “como o dinheiro é gasto” e a maneira como o dinheiro é investido nestas economias. Defendeu ainda que não há soluções globais para o desenvolvimento e que nos países europeus é preciso que se tenha um “auto interesse esclarecido” já que “ajudar os outros faz com que as importações se tornem mais baratas e aumentem o seu volume”, assim como há um aumento de exportações para estes países. Durão concluiu que são necessárias políticas “mais criativas” e “mais ousadas”.